domingo, 26 de junho de 2011

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena
            O Bureau of Investigative Journalism revelou que a Comissão Europeia, entre 2006 e 2010, gastou despudoradamente dinheiros públicos em despesas sumptuárias. Nesta Europa em crise, e em que diversos países passam as “passas do Algarve”, o exemplo devia vir de cima, mas afinal, como diz o ditado popular, bem prega frei Tomás!...Só em jactos particulares, foram gastos mais de 7,5 milhões de euros! Os comissários esbanjaram milhões em estadias de luxo, em joalharia famosa e até em orquestras de excelência para animarem festas privadas, para já não falar de viagens a paraísos exóticos, como Nova Guiné, Papua, Gana e Vietname. Até o nosso circunspecto compatriota Durão Barroso não se coibiu de apresentar uma conta de 28 mil euros por uma viagem de quatro dias a Nova Iorque. Enfim, os demais que apertem o cinto, se ainda o tiverem!
            Cá por casa, também vem constantemente à tona exemplos do pouco escrúpulo no uso do dinheiro dos contribuintes. É o caso da empresa pública de transportes ferroviários, que apesar de ter um prejuízo a rondar os 195 milhões de euros e uma dívida acumulada de 3.3 milhões de €, os cinco gestores da CP, (logo cinco!), não têm pejo em gastar 55 mil euros anualmente na sua frota de Mercedes. Depois é greves e mais greves e os utentes da CP que aguentem a carga e o país que pague a buchada.
            Terminado o ruído da campanha política, o país regressou à saudável normalidade e à aparente descompressão social, pelo menos para já.
            Rei morto, rei posto. Como Sócrates tinha referido que não governaria com o FMI, o povo fez-lhe a vontade e apeou-o do trono. Mas apesar do revés eleitoral, foi igual a si mesmo, qual estrela cadente em noite eleitoral. Discurso pensado, sustentado no teleponto, portanto elaborado com tempo, para agradecer aos portugueses a honra de lhe terem permitido servir Portugal e para garantir que vai “andar por aí”, certamente para depois aparecer lá para as próximas eleições presidenciais. Um actor perfeito! Também na reunião de cúpula do PS e perante os seus pares, despediu-se emocionadamente com um “eu adoro-os”, o que levou muitos dos devotos camaradas às lágrimas. São assim os bons politicantes!
            Consta que vai viver um ano sabático em Paris para estudar filosofia. Pode bem ser que a cidade da luz dê ao neófito filósofo uma visão coerente do universo e lhe traga a serena beatitude que o liberte das paixões internas e das contingências externas. Como já bebeu na noite eleitoral a cicuta da derrota, que siga as pegadas do seu homónimo grego, Sócrates, por antonomásia o filósofo, cuja divisa délfica era Conhece-te a ti mesmo e cuja condição primeira deste exame interior era o reconhecimento da própria ignorância. Porque só é sábio, aquele que sabe que nada sabe. É este o único caminho que leva ao achamento da verdade, que não é criação mental, nem habilidade dialéctica, como acontecia com a retórica dos sofistas, mas sim descoberta consistente, duradoira. Verdade que, enquanto PM, lhe passou muitas vezes ao lado.
in O Jornal de Vieira

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Flashback

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena

            O caso do senhor Dominique Strauss Kahn tinha todos os ingredientes para ser capa dos periódicos ou abertura dos telejornais, como de facto foi, porque reunia em dose explosiva sexo e poder. Ainda muita tinta correrá, até se apurar cabalmente se o homem foi leviano no comportamento, ao cair nos três inimigos da alma, principalmente o último, ou vítima de armadilha bem montada. Há pistas que apontam para um linchamento bem orquestrado, uma espécie de castigo pelas posições que Strauss Kahn tinha vindo a tomar à frente do FMI, que ameaçavam a elite financeira mundial e o comportamento hegemónico dos Estados Unidos no seio da organização. Os banqueiros mundiais, altamente responsáveis pela crise que atravessa os continentes, não viam com bons olhos as mudanças que o senhor Strauss Kahn estava a introduzir no FMI, no sentido de o transformar numa organização de fim mais filantrópico, de ajuda sincera aos países em dificuldade, e não uma agência de agiotagem que explora até ao tutano os povos que se encontram em dificuldades económicas e financeiras.
            Deixando de lado essa questão, é de referir, no entanto, que a justiça americana foi cega, agiu com celeridade e não olhou ao estatuto social do arguido. Se o incidente tivesse ocorrido por estas paragens, certamente que a justiça deixaria muito a desejar. Sabemos como os tribunais portugueses piscam o olho aos poderosos, que escapam das malhas da justiça como enguias luzidias em noite luarenta de pescaria. Embora salvaguardando as distâncias, veja-se o que aconteceu com uma magistrada do Ministério Público que foi detectada, em Cascais, a conduzir em contramão e com uma taxa de 3,08 de alcoolemia. A detenção foi feita pela Polícia Municipal, mas o processo foi logo anulado e a senhora libertada, porque o tribunal entendeu que a detenção fora ilegal. Sabemos o que acontece ao comum dos mortais quando é apanhado nas mesmas condições. É submetido a julgamento sumário e leva com as devidas penalizações legais. Pequeno exemplo revelador de como a nossa lei processual está a léguas de distância das americanas, quando usa dois pesos e duas medidas.
            Sabendo-se da crise que o país atravessa, com falta de dinheiro para tudo, atraso nos compromissos do Estado para com os fornecedores e até da falta das coisas mais comezinha nas repartições públicas, como se compreende que a PSP tenha gasto 62 mil euros em relógios de luxo para o director nacional dispor, a seu belo prazer em oferendas, em actos oficiais, a entidades que visitam aquela força de segurança.
            Enfim, ainda não aprendemos que o dinheiro dos impostos, que é dos cidadãos, deve ser bem gerido e gasto com parcimónia. Até parece que a ordem é rica e os frades são poucos! Por isso, toca a gastar à tripa forra. Não temos emenda.
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena
           
            Com a Troika fora de portas, temos vindo a assistir ao blá-blá-blá da campanha política, cujo ruído o povo parece já não ter pachorra nem tempo para ouvir.
            As sondagens que vão saindo nos jornais, à medida de todos os gostos, são bem reveladoras do divórcio que existe entre a classe política e os cidadãos. Se umas dão a vitória ao PSD, se outras ao PS e ainda outras apontam para o empate técnico, há uma percentagem que salta aos olhos, mais ou menos idêntica em todas elas, que é o número elevado de eleitores que não responde ou se abstém e que se situa bem acima dos 40%. Este dado devia fazer clique nas cúpulas partidárias.
            Os homens da troika europeia estiveram cá e em tempo recorde diagnosticaram os males de que padecemos, coisa que nestes anos todos os partidos do dito centrão nunca tiveram coragem de fazer e pôr em prática. Damos jus ao complexo de que padecemos. Estamos sempre à espera do encoberto, uma espécie de D. Sebastião, o que vem de fora a realizar o milagre de Canã. Milagre que nos vai custar os olhos da cara, até porque a Europa da solidariedade e dos valores sociais não existe. A dimensão social desta velha Europa assenta somente no valor dos cifrões. Os nossos generosos amigos europeus, os do dinheiro, tratam bem da sua vidinha, de que é exemplo a taxa de juro de cerca de 6% que vamos pagar pelo empréstimo.
            Entrementes, Sócrates, artista em truques e alçapões, ainda teve tempo para aparecer numa cena trágico-cómica a anunciar ao País o que o acordo não contemplava. É mesmo o master-chef da culinária política! No meio daquela lista de benesses, só lhe faltou garantir que o solstício de verão estava garantido e que o título de campeão nacional seria para o F.C. do Porto. O PM entrou-nos em casa, à hora do jantar, no papel de herói da fita e deixou para o ministro das finanças o de carrasco. Feitios! Aliás, é um homem de certezas. Disse que não governaria com as imposições do FMI, mas já deu o dito por não dito, truque a que já estamos habituados.
            Na franja da esquerda, Jerónimo e Louçã dizem ter a solução do país na manga, sem o FMI. Foi pena ter vindo a Troika! Tínhamos a resolução intra muros. O PCP fala de uma solução patriótica de esquerda, presume-se com o BE e os Verdes, mas é coisa que nesta democracia burguesa percentualmente não colhe. Será que estão a contar com a ajuda dos Gnomos escandinavos, esses sim generosos europeus, mas que habitam lugares reservados num mundo paralelo ao nosso?
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena
           
            Antigamente, a quadra quaresmal não era propícia ao aparecimento de ninharias e bagatelas noticiosas. Era tempo de se viver em profundidade, em silêncio e sem desvios pequenos a grandiosidade do mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Até as próprias rádios se associavam ao luto quaresmal e só transmitiam música clássica, de modo a criar uma atmosfera de meditação e recolhimento. Outros épocas outros modos. No entanto, como sinal dos tempos, aqui e agora, o país vive na espuma dos dias, no efémero do momento, num frenesim noticioso sem paralelo. São tantos os jornais e os canais televisivos que há necessidade de tudo transpor para a opinião pública. Veja-se o que se passa com os homens do FMI e afins que não têm o mínimo de sossego, tendo muitas vezes de sair pela porta do cavalo para não enfrentarem os microfones das rádios e as objectivas da televisão.
            Neste contexto, sangue, lágrimas e assaltos são o pão-nosso informativo. Por vezes, até um pouco anedóticos, como foi o caso do roubo que aconteceu no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra, donde foram desviados dois chifres de rinoceronte do século XVIII e cujo valor no mercado negro internacional pode atingir 80 mil euros. Nada escapa aos larápios. E em tempo de crise, os ditos chavelhos, velhos de mais de duzentos anos, também não escaparam à roubalheira generalizada que varre o país de lés-a-lés.
            Quem também foi notícia, porque apanhado em ramo verde, foi o deputado do PS, de seu nome José Lello. Através do Facebook, o representante do povo apelidou de “foleiro” o Presidente Cavaco Silva.” Numa justificação esfarrapada veio depois a terreiro dizer que foi uma atitude involuntária. Referiu, ter dito em “português redondo” aquilo que poderia ter sido dito em “politiquês”. No entanto, o senhor deputado não é virgem neste seu jeito truculento de falar dos outros políticos. Em tempos, já tinha apelidado o Presidente de “ressabiado. Mas este episódio só vem revelar os mimos que os representantes do povo, entre eles, na calada do BlackBerry, trocam entre si.
            Dei-me ao trabalho de consultar a Dicionário Etimológico e “foleiro” vem do latim folle- “fole, odre”. Bem vistas as coisas e indo ao sentido etimológico do termo não sei bem qual dos dois será mais fole, se o acusador, se o acusado. Até porque a nível popular, foleiro também significa burro de moleiro que transporta os foles ao moinho. Sabendo-se que José Lello faz parte do grupo duro de Sócrates e funciona um pouco como cavalo de tróia do chefe, quando é preciso dar a cara em tudo o que seja truculência partidária, fico baralhado em quem assenta melhor a albarda de foleiro.
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena

            Em jeito de pastiche do poema De Tarde, de Cesário Verde, arrisco a dizer que nesta quinzena houve coisas de bagatela, que, “sem ter história nem grandeza, em todo o caso davam uma aguarela” rósea. Com efeito, num momento em que o país está entre a parede da bancarrota iminente e a espada da ajuda comunitária, há gente feliz e com muitos euros. Duas cores mimosas merecem fazer parte de tal matiz. Soube-se que um tal Rui Pedro Soares, que renunciara à administração da Portugal Telecom, em Fevereiro de 2010, onde tinha sido colocado, segundo consta, não pelas competências técnicas, mas pela cor política, recebeu a título de remuneração, por parte da operadora telefónica, a gorda maquia de 1,212 milhões de euros, sendo 648,7 milhões em jeito de indemnização. É obra! No Euromilhões, para se conseguir o estatuto de excêntrico, sempre é preciso fazer qualquer coisinha. Tem de se acertar simultaneamente nos cinco algarismos e nas duas estrelas. Bem, neste caso foi tudo muito mais fácil! Bastou acertar na estrelinha cor-de-rosa da política.
            Com outro godé de tinta contribuiu a Carris, empresa pública de transporte rodoviário da capital. Então não é, que a administração lá do sítio resolveu renovar a sua frota automóvel, com quatro carros da gama luxo, a saber, Mercedes, BMW e Audi, viaturas bem ao nível dos excelentes gestores, como o revela o “buraco” existente no orçamento, no valor de 775,5 milhões de euros. É caso para dizer, que face ao momento que o país atravessa, a administração da Carris descarrilou completamente. Escusado será dizer que os gestores que por lá andam são aqueles que têm os patins do partido do poder. E assim se pinta a aguarela da democracia…
            Para terminar, é de referir a paleta de cores e a festa de arromba que foi o congresso do PS em Matosinhos. Ao jeito hollywoodesco, conseguiu-se eclipsar a festa que anualmente se faz em honra do Senhor de Matosinhos e que é uma das romarias maiores do norte do país. E bem! Qual César Augusto, o Senhor Engenheiro merece-o, sempre foi eleito com 93,3% dos votos dos correligionários, coisa que só acontece lá para a Coreia do Norte. E para gáudio da família tonitruante, toda a oposição serviu de alimento às feras do Coliseu, a começar pela delegação social-democrata, recebida debaixo de um coro de assobios e impropérios. É assim que anfitriões bem-educados recebem os convidados.
            Coisas de bagatela, mas que em todo caso davam uma aguarela.
            Assim vai este país!
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena

                Foi notícia que os humanos começaram a controlar o fogo apenas há 400 mil anos, ao contrário dos 1,6 milhões de anos que se pensava. O fogo foi importantíssimo no processo da hominização, ao ponto de encaminhar o homem para grandes alterações psicossomáticas, religiosas, comportamentais e sociais. O fogo tanto é bem como mal. Tanto brilha no Paraíso com arde no Inferno. Tanto é prazer, como castiga qualquer desobediência a quem com ele brinca.
                Não é sem sentido o aforismo popular de que “quem brinca com o fogo queima-se”. Foi o que aconteceu ao nosso Prometeu que tanto brincou com o fogo da verdade e da mentira que foi punido. Agora, as águias da oposição vão-lhe devorando os fígados até às próximas eleições, lá para o verão.
                Também foi destaque a celebração do Dia Mundial do Sono. Referiu-se que 12% dos portugueses já adormeceram ao volante, sendo a sonolência causa de muitos acidentes rodoviários. Que os portugueses são muito dorminhocos e que até nestes últimos seis anos quase atingiram colectivamente o coma profundo, isso é uma verdade insofismável. No entanto, a manifestação que aconteceu no dia 12 de Março parece ser sintoma da saída da letargia em que estiveram mergulhados. Avós, filhos e netos encheram pacificamente as praças e avenidas das cidades para mostrar aos senhores do poder instalado que este não é o melhor caminho a seguir por quem está à rasca.
                O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos veio estes dias dar razão à Itália ao autorizar a presença de crucifixos nas salas de aula das escolas públicas, depois de uma queixa feita por uma mãe italiana. Segundo o TEDH, compete a cada estado membro legislar sobre o assunto. Ao menos nesta temática, não somos formatados pelas directivas europeias. Por cá, em tempos, também se esboçou um movimento sinistro, que se esfumou, no sentido de arredar todos os símbolos religiosos dos espaços públicos. Toda a gente sabe que os Estados devem ser aconfessionais, mas não querer aceitar o papel do cristianismo na modelação da Europa é cegueira e ignorância primárias.
                A maior lua cheia das duas últimas décadas aconteceu na noite de sábado do passado dia 19 de Março. Com o perigeu lunar, tivemos uma lua 14% maior e uma luminosidade 30% maior. Para além de satélite da Terra, a Lua como astro por excelência da noite, também é símbolo dos ritmos biológicos e do tempo que passa. Com as suas quatro fases, simboliza a transformação e a renovação. Premonitória, ela trouxe consigo, neste perigeu, um novo e desejado ciclo político para o país.   
                Para terminar, foi parangona em capa de jornais a indemnização que Armando Vara recebeu do BCP pela sua saída da gestão executiva do banco. Mais de meio milhão de euros sem ter trabalhado! É obra! Depois querem que o povo entenda porque é que os bancos não pagam mais impostos ao Estado! Pudera. Se o distribuem desta maneira a alguns apaniguados, como há-de sobrar para impostos?! Mas o caso deste senhor é o paradigma do carreirismo e oportunismo políticos. Do cinzentismo bragançano rapidamente saltou para o estrelato político lisboeta. E daí a ministeriável foi um pulinho. Depois das embrulhadas em que se viu envolvido no governo de Guterres, frequentou a célebre Universidade Independente e, de simples caixa bancário, saltou para a cadeira de banqueiro. Divinal! Faz jus ao nome que tem, porque na arte do salto à vara político não há campeão olímpico que lhe possa pedir meças. 
in Jornal de Vieira