sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Flashback


Bagatelas da quinzena
                1 Depois de um longo, sepulcral, comprometedor silêncio, Duarte Lima veio a terreiro, através dos seus advogados, reafirmar a sua inocência relativamente à acusação de homicídio da cidadã Rosalina Ribeiro e solicitar o “habeas corpus” de modo a impedir a ordem de prisão decretada no Brasil. Está no seu direito fazê-lo e todo o cidadão goza da presunção de inocência até o processo transitar em julgado. Mas a fazer fé nas acusações de que é alvo, por parte das autoridades brasileiras, muito dificilmente se verá livre da teia em que está envolvido. Uma coisa é certa. Mesmo que não venha a ser condenado pelos tribunais, perante a opinião pública nunca mais se verá livre desta mancha terrível. No entanto, uma coisa intriga o comum dos cidadãos. Como foi possível que aquele alfobre de “meninos de ouro”, onde se incluíam também Oliveira e Costa, Dias Loureiro e outros, que gravitaram em redor dos governos de Cavaco Silva e que brilharam nas luzes da ribalta política de então, se tenham tornado em tão breve espaço de tempo autênticos “caretos” da sociedade portuguesa?!
                2 Em tempo de vacas magras, o governo aperta por todo lado. Com o cinto já no último furo para a maioria dos cidadãos, também o cerco vai chegar às Câmaras Municipais e Regiões Autónomas, com uma fiscalização apertada às contas e à contratação de pessoal. Toda a gente sabe dos favores políticos que se pagam após cada eleição local, do compadrio existente em alguns sítios e do autêntico albergue espanhol em que se transformaram muitas das administrações locais. Para além de obras de fachada de utilidade duvidosa, quer pela oportunidade, quer pela mais-valia para o cidadão, é escandaloso o corrupio de gente que se diz funcionário público, mas que nunca funciona.
                3 Senhores das armas, os militares sempre se entenderam como uma classe de cidadãos à parte. Nunca ninguém teve a coragem de se meter com eles e lá foram ao longo dos anos acumulando benesses e brincando às suas guerrinhas. Mas como a hora é difícil, parece que também para eles o momento do aperto chegou. Dizia Eça de Queirós que o exército é uma ociosidade bem organizada e paga pelo Estado. Tinha razão à altura e continua actual. Que sentido faz ter carradas de generais para um exército pretensioso? No entanto, sempre que no poder está alguém que politicamente não lhes cai no goto, vem logo a terreiro o inefável coronel Vasco Lourenço ameaçar com o 25 de Abril. O homem parece não entender que não é dono da coutada, nem das vontades e que o 25 de Abril de 74 foi feito precisamente para isto: trazer a democracia ao país. Como as eleições é que decidem, seja democrático e aceite a voz autorizada do povo.
                4 José Rodrigues dos Santos deu ao prelo um novo romance de nome “O Último Segredo”, onde fantasia a verdadeira identidade de Jesus. Todo o romance é sempre um simulacro da realidade e a visão da obra remete sempre para a metafísica do autor. Está no seu direito fazê-lo. Agora o que se entende, quando se mexe em coisas sérias e se brinca com a identidade de muitos crentes, é que por detrás deste género de romances a única preocupação é o dinheirinho. Pela minha parte, não darei absolutamente nada para o peditório.