domingo, 16 de dezembro de 2012


Bagatelas da quinzena   
 
 Que os dirigentes políticos prometem uma coisa quando estão na oposição e fazem o seu contrário no governo é algo a que os portugueses já estão habituados. Daí o divórcio entre eleitores e eleitos ser cada vez maior e a credibilidade da classe política andar pelas ruas da amargura. Aliás, o revezamento dos partidos não se deve tanto ao mérito das propostas, das soluções que apresentam enquanto oposição, mas às asneiras que o poder vai fazendo, que acabam por os tombar do poleiro. E são tantas as trapalhadas do governo de Passos Coelho, que o povo parece que está mortinho por o ver cair de maduro como maçã serôdia. Uma das últimas trapalhadas foi dizer que as facilidades dadas aos gregos também seriam aplicadas aos portugueses. Mas, qual não é o espanto geral, quando passados dias, o ministro Gaspar vem dizer o contrário, porém a culpa foi dos portugueses, porque fizeram uma “inqualificável confusão”. No mínimo é fazer dos portugueses uns atrasados mentais, porque não conseguem acompanhar, mesmo au ralenti, as sequências narrativas do responsável pela pasta das finanças. Enfim, um bando de patos bravos é o que os portugueses são!
                Que a Justiça é lenta, que existe uma para pobres e outra para ricos, toda a gente o apregoa. E como se tanto não bastasse, a receita do bolo fica completa com a violação constante do segredo de justiça. Quantas vezes, a polícia ainda não fez as buscas domiciliárias e já tudo foi bufado para os jornais ou até para as televisões que, de câmaras apontadas, estão prontas para o que der e vier. Depois fazem-se grandes parangonas nos jornais e abrem-se noticiários televisivos com suspeitas generalizadas, como se o visado ou os visados já estivessem condenados. Foi o que recentemente aconteceu com o antigo ministro das Finanças Medina Carreira. Parece que tudo não passou de um equívoco grave, mas que colocou o visado na mó de baixo da opinião pública. Quando estas situações acontecem, o Ministério Público e os Juízes prestam um péssimo serviço ao país. No Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, já o Corregedor e o Procurador de então aparecem na galeria de personagens onde são escarnecidos severamente! Mas que sina a nossa!
                Foi noticiado que uma nova classe de dirigentes inter-municipal vai ser criada, cerca de uma centena, que vão receber remuneração principesca. Afinal de contas, o Estado não faz a dieta de que tanto fala e alguma apetitosa gordurazinha vai sobrando para alimentar estes boys. Fala-se que os lugares destinam-se a ex-autarcas impedidos de se candidatarem a novo mandato. Se assim for, parafraseando o sapateiro de Braga, ou há moralidade ou comem todos.
                Nem tudo é negativo. A actual administração do Conselho de Administração do Parlamento, presidido por Couto dos Santos, vai renegociar a faustosa frota automóvel que herdou de José Lello, para pôr alguma decência na situação. Ao que consta, os carros topo de gama serão substituídos por outros mais modestos. É um gesto que cai bem, porém poder-se-ia ter ido mais longe. Por que não, o Governo fazer o mesmo? Também, por que carga de água, os quatro vice-presidentes da Assembleia da República hão de ter direito a carros topo de gama e a motorista? Simples curiosidade: que musiqueta ouvem enquanto andam de cu tremido pelas calçadas de Lisboa? Feliz Natal.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Bagatelas da quinzena    

 São decorrentes e com muita justeza as críticas generalizadas à Justiça, cuja balança tem dois pesos e duas medidas. Enquanto eminentes tubarões da política e dos grandes negócios escapam às malhas da lei, como enguias lustrosas em noite de pescaria, o peixe miúdo raramente escapa à teia dos tribunais, mesmo quando em causa estão questões que não valem um prato de lentilhas. Não é o caso presente. No entanto, o mesmo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça que mandou destruir as escutas comprometedoras feitas a José Sócrates é o mesmíssimo juiz que agora validou as escutas feitas a Passos Coelho. Sócrates era então Primeiro-ministro, Passos Coelho é hoje o Chefe do Governo. Não será isto um exemplo de dois pesos e duas medidas? Se não é, expliquem!
                Sem entrar na guerra de números, a greve geral e as manifestações foram, no dizer dos seus responsáveis, um sucesso. Talvez tenham sido, a avaliar pelas imagens transmitidas pela televisão. No entanto, as cenas de pancadaria que se seguiram em frente à Assembleia da República acabariam por abafar o êxito da jornada. Para a história ficou a carga policial sobre os manifestantes, os petardos e as pedras da calçada que serviram de armas de arremesso. Segundo a polícia, infiltrados na manifestação, havia grupos radicais de anarquistas, elementos das claques de futebol, alguns estivadores, energúmenos e desordeiros de última hora. Toda esta gentalha veio estragar o legítimo e constitucional direito à indignação e à luta pacífica. Por isso, a carga policial foi a adequada e como diz o povo, foram poucas e só se perderam as que caíram no chão.
                O Censos revelou que o país tem 10 562 178 habitantes, metade da sua gente vive na faixa litoral. O interior despovoou-se e envelheceu, envelhecimento que tem vindo a acentuar-se de forma muito significativa. E se por um lado é positivo a esperança de vida ter subido, vive-se melhor e até mais tarde, por outro, deve fazer reflectir seriamente os responsáveis políticos. Os nascimentos decrescem, os novos emigram, o desemprego galopa, os idosos aumentam, o país definha. Portugal vive adiado! O “jardim à beira-mar plantado” já virou lar de terceira idade. Que futuro?
                Jerónimo de Sousa, secretário-geral dos comunistas, em entrevista recente ao Expresso, afirmou que “o socialismo que pretendemos não tem modelo”. Longe vai o tempo, portanto, em que a URSS era paradigma a seguir: um Estado totalitário, sem classes sociais, de partido único, baseado na colectivização, no controle dos meios de produção, na polícia do KGB e nos Gulag, dos presos políticos, onde milhares de cidadãos penaram até à morte. O PCP também não aponta as suas referências ideológicas para as famigeradas sociedades socialistas actuais: China, Cuba, Coreia do Norte, etc. Por outro lado, o PCP não se dá bem com a democracia burguesa, parlamentar, porque convive melhor com as acções de rua como meio de levar à queda dos governos democraticamente eleitos. Para tal, serve-se da CGTP, correia de transmissão do partido, como cavalo de Tróia dessa luta. Por fim, refere que “a política patriótica e de esquerda” que desejam “é uma solução em construção”. Com quem? Com o Bloco de Esquerda? Utopia revolucionária, certamente, à espera dos “amanhãs que cantam”.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012



Bagatelas da quinzena  
  
 Umas excelências maçadoras da nossa praça, quais caga-lumes em noite quente de verão, estão sempre disponíveis para a fosforescência verbal, para a verborreia narrativa quando algum jornal ou microfone lhes dá oportunidade de antena. Como se não bastassem já tantos treinadores de bancada a dar palpites de imbecilidade, ainda vêm estes senhores engrossar o dichote político em que andamos afogados. Recentemente, foi a vez do presidente do BPI, à pergunta se “o país aguenta mais austeridade?”, responder com um “ai aguenta, aguenta!” Se cada português fosse accionista de um banco, certamente aguentaria tudo e mais alguma coisa, a ver pelos lucros fabulosos que os bancos vêm tendo, apesar da conjuntura difícil que se vive. Portanto, é caso para perguntar ao Dr. Ulrich: crise, qual crise? É bem sabido que pimenta no rabo dos outros é refresco para o BPI…
                A afirmação de D. José Policarpo de que em democracia os problemas não se resolvem com manifestações ou a de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, de que os portugueses não podem comer bifes todos os dias, ambas revelam sensatez. Os tempos são difíceis, não só para nós, mas para todos os europeus que criaram um padrão de vida acima dos recursos disponíveis. Quem não quiser ver esta realidade, está a ser avestruz com a cabeça metida na areia. Por isso, quando alguém não embarca na narrativa politicamente correcta, quando o discurso é sensato e se rema contra a maré do momento, caiem-lhe logo em cima um coro de críticas histéricas e sem sentido. Depois, as redes sociais fazem eco deformado de tudo e exponenciam até ao enjoo a palermice colectiva. O que se valoriza é a espuma, o superficial, o contingente, em detrimento daquilo que o país precisa, que é bom senso, para sair dos dias negros em que está mergulhado.
                Para sair da austeridade bem precisávamos de partidos à medida do momento. Mas o que se verifica é que o quintal de cada um é mais importante do que o país. Temos a lição do que foi a primeira república e das lutas partidárias de então que deram no que deram. Os tempos são outros, evidentemente, mas seria bom aprendermos com a História. Até com os partidos políticos um país precisa de ter sorte! Pela aragem, parece que não tivemos. O PCP vive agarrado à vaca sagrada da constituição, à espera de que o Alentejo ainda lhe volte às mãos; o BE vocifera contra a troika, pedindo insistentemente que se rasguem os acordos com os credores; o PS assobia para o lado como se nada fosse com eles e José Seguro não se compromete com nada à espera que o poder lhe caia no colo. PSD, CDS e Governo, acossados na rua por todos os lados, navegam à vista dos acontecimentos. Com estes sindicatos partidários cuidando zelosamente das suas quintinhas, com a CGTP transformada em carneirada de rua, o país não tem estadistas nem dirigentes com visão de futuro. Por isso, avante camarada, avante, até ao abismo.
                Angela Merkel visitou Portugal e uma minoria instrumentalizada vê na senhora a fonte de todos os nossos males. Sublima-se em bode expiatório todas as fraquezas. Mas nesta Europa a várias velocidades, com alguns países até em roda livre, a chanceler alemã talvez seja o travão necessário para manter viável no carril o comboio económico do Velho Continente. 

terça-feira, 30 de outubro de 2012




Bagatelas da quinzena    

 Quando se corta em coisas de pouca monta, há sempre uns manga-de-alpacas dizendo que são migalhas, que nada contam no enorme bolo do Orçamento de Estado. No entanto, como diz o povo, migalhas são pão. Soube-se agora que a Assembleia da República viu o seu orçamento para 2013 aumentado em 56%, reforço que se destina às próximas eleições autárquicas. Toda a gente compreende que a democracia é cara e as mordomias, para quem está no poder, muitas. Só parlamentos são três! Câmaras, imensas! Juntas de Freguesia, demasiado. Convenhamos que, para um país tão pequeno, é muita parra e pouca uva! Depois, está-se mesmo a ver que o dinheirinho do tal reforço vai ser esbanjado em inestéticos cartazes de rua, em papelada que ninguém lê e em esferográficas para deitar ao lixo. Para além disto, a Associação de ex-Deputados e o Grupo Desportivo Parlamentar vão continuar a receber 57 mil euros para uns torneios de golfe na Quinta de Marinha e, talvez, uns torneios de futebol de salão. Para quem leva uma vida tão sedentária, bem preciso é algum exercício físico para que não ganhem calo como os macacos. E 57 mil euros são migalhas do grande bolo que não matariam a fome a ninguém!
                O Grupo Parlamentar do PS também resolveu investir mais uns trocos dos contribuintes renovando a sua frota automóvel. Dizem que foi para poupar! Tudo bem! Mas em vez de marcas de luxo, por que não os tais Clios de que falava o deputado Francisco Assis? Não lhes caíam os parentes na lama! Os deputados dos países nórdicos até andam nos transportes públicos! E o Presidente da República do Uruguai continua a andar no VW Carocha! Mas gente fina é outra loiça! Com rabiotes de cristal, bem merecem os deputados da nação umas macias almofadilhas que lhes elevem a condição de servidores do povo.
                A crise aperta, a austeridade aumenta, ninguém parece escapar ao tsunami económico e financeiro que o país atravessa. Primeiro foi Cavaco Silva e as suas reformas: “tudo somado, é capaz de não dar para pagar as despesas”, dixit. Grande nóia! Mas agora, foi a vez do ex-Secretário de Estado e actual deputado socialista Paulo Campos referir que vive mensalmente com a ajuda financeira dos pais. É um choradinho que devia envergonhar o seu autor. Sabendo-se dos milhares de desempregados jovens e menos jovens que diariamente desesperam em busca de trabalho, da quantidade imensa de gente idosa que vive com reformas de penúria e tantos outros que desalentam em busca de pão, como é possível um senhor deputado vir choramingar para a praça pública a sua austeridade? Para prover casos como este, deve a Assembleia da República criar uma subvenção de caridade política em nome da justíssima dignidade de tão ilustres parlamentares.
                Lusófona, Relvas e C.ª bem podia ser o nome de uma firma de tramóias e alçapões. Contrariando a anedota que corre, dizendo que Relvas era o único aluno da sua turma, veio a saber-se que afinal tinha 89 condiscípulos. Até foi uma turma razoável... A instituição deu creditações profissionais em número suficiente para se obter o grau de licenciatura em um só ano! É obra! Como cheirou a esturro, segundo o Ministério da Educação, os rapazolas em causa, terão de agarrar as sebentas, se é que alguma vez o fizeram, regressar aos bancos da escola para queimarem as pestanas. Que grande chatice!

sábado, 13 de outubro de 2012




FLASHBACK
Bagatelas da quinzena     

                 O país anda tão nervoso que qualquer coisinha serve para a reacção mais intempestiva, para o disparate colectivo mais folclórico! Armado em La Fontaine, Miguel Macedo recriou a fábula da Cigarra e da Formiga, e, apesar de estar em casa de bombeiros, incendiou os pequeninos rastilhos da intriga nacional. E o estrondo foi tal, que o ministro teve vir explicar o sentido da metáfora. Mas senhor ministro, com tanto desemprego no país, mesmo aqueles que no passado sempre foram formiguinhas de trabalho, mais não lhes resta hoje do que serem cigarras roufenhas, entristecidas à espera de melhores dias de verão. Também a “boutade” de António Borges sobre a TSU, ao apelidar os empresários de “ignorantes”, veio aumentar o ruído político. A resposta dos empresários não se fez esperar, referindo que o senhor “nunca trabalhou na vida”, isto é, nunca foi formiga, portanto não sabe o que é ter dores de cabeça quando se tem empregados a cargo. Com amigos destes, que tantos tiros dão nos pés, não precisa Passos Coelho de grande oposição!
                Os cortes nas fundações foram apresentados como solução para poupar uns valentes 200 milhões de euros. Mas das dezenas de fundações que iriam ser extintas, o Governo ficou-se por quatro. Muitas não dependem do Governo, são das universidades e dos municípios. E os milhões por cortar ficam para S. Nunca à Tarde. Nunca uma montanha pariu um rato tão pequeno e percebe-se porquê. Quando o Estado todo-poderoso para com os fracos contribuintes tenta tocar nos fortes interesses instalados, sejam eles nas fundações, nos institutos ou na reforma administrativa, mete o rabo no meio das pernas e foge deles como o diabo da cruz.
                Extremismo e demagogia não levam o país a lado nenhum. E o governo tem de perceber que medidas demasiado dolorosas para os cidadãos são o caldo propício para determinados extremismos políticas e sociais florescerem. Não têm soluções, não apresentam alternativas viáveis. Mas fazem do batuque, do foguetório, do circo, da algazarra política a sua razão de existir. E se para alguns, o paradigma de sociedade que apresentam está falido há muito tempo, foi sepultado com as carcaças políticas da antiga URSS, para outros, as utopias que alimentam só serão passíveis de ser realizadas em algum reino de iluminados nefelibatas.
                A redução de deputados anda na berra das redes sociais e vai ter lugar no calendário político do PS. Embora algumas lapas do partido estejam contra, com medo de perder o rochedo hospedeiro, o líder dos socialistas referiu que vai apresentar uma proposta de redução do número de deputados até final do ano. E honra lhe seja feita, se conseguir levar avante a sua cruzada. O folguedo de tantos deputados, amarrados na Assembleia da República, alguns deles saltaram dos cueiros directamente para lá, custa à democracia 100 milhões de euros cada ano. E neste assunto, PCP e BE estão furiosamente contra. Quando se mordisca interesses, até os régulos mais ciosos da senzala ficam assanhados. Pudera!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012



Bagatelas da quinzena    

                 O Governo não pode ficar indiferente ao milhão de portugueses que saiu à rua no passado dia 15 de Setembro. Cerca de 87% dos portugueses dizem-se desiludidos com a democracia! A nossa sociedade está doente. Será que todo este paradigma de vida está esgotado? Cortes e mais cortes, sempre nos mesmos, é uma fatalidade da qual não se pode sair? Pode ser um chavão, mas a austeridade pela austeridade não leva a lado nenhum. Porque não se faz uma reformulação política profunda na organização do Estado? Menos deputados, menos mordomias, diminuição nas subvenções vitalícias dos políticos, algumas acumuladas com outros proveitos, rendas excessivas, reforma administrativa, parcerias público-privadas e em tudo aquilo que, aos olhos dos cidadãos, são benesses de uma casta de gente que vive parasitariamente pendurada no orçamento do Estado. Não há caminhos mais mitigados que nos levem a dias melhores? O povo proclamou que há mais vida para além da crise, da troika, do défice. Depois dos números, há pessoas e dramas de vida gritantes. Gente essencialmente da classe média, classe que se forjou e se revigorou após Abril de 1974, que nunca tinha descido às ruas fê-lo, desta vez, mostrando o descontentamento generalizado com uma classe política que tem assentado as nádegas da governação na desfaçatez da mentira. Há uma grande fractura com esta geração de políticos que só poderá ser superada com novos partidos ou com gente que, nos existentes, faça um corte radical com o modus operandi dos actuais. Também não é com o radicalismo, a demagogia que as esquerdas ancilosadas apregoam que se vai a lado algum. No meio estará a virtude, mas não com o cinismo deste centrão clientelar.
                Na recente crise, Passos tirou da cartola, não um coelho, mas uma TSU que toda a gente viu logo que era albina e autista, menos ele. A coligação governativa foi igualzinha às imbecis estrelas da Casa dos Segredos. Tudo foi idiota, ligeiro, parvo. Afinal de contas, o que se passou no Conselho de Ministros não ficou dentro das quatro paredes. Paulo Portas tinha um segredo mortal para ser escancarado no confessionário nacional do partido: era contra a TSU, mas aceitara-a em nome dos superiores interesses do Estado. Foi uma picada viperina que envenenou toda a coligação. Cai-não-cai e com muitas jogadas de bastidores, o nó de víboras desatou-se. Depois, saltaram do carrossel do circo alguns bonifrates de serviço com o antídoto para a salvação nacional! Até quando?
                Quem viu o programa “Olhos nos Olhos” da TVI 24, onde esteve o Prof. Paulo Morais, vice-presidente da ONG, “Transparência e Integridade”, ficou certamente com os olhos em bico. As afirmações feitas arrasam a classe política em geral e a Justiça em particular. “Assembleia da República é centro de corrupção em Portugal”. “ Há promiscuidade entre a legislação que é feita e os deputados”.“Há corrupção, não há, é Justiça”. “Porque se fizeram auto-estradas que estão sem utilidade alguma?”. “Os dinheiros públicos estiveram a saque e serviram para enriquecer muita gente”. “Ex-ministros das Obras Públicas estão agora nas empresas de obras públicas”. “Muitos ex-governantes estão hoje nas PPP”. Pérolas assertivas como estas, entre outras, não deixarão muitas orelhas a arder, alguns responsáveis a corar de vergonha? Talvez não! “A vida política portuguesa, na sua maioria, está uma indecência”. Perdeu a inocência…

domingo, 16 de setembro de 2012



Bagatelas da quinzena    

                1 A Comissão Europeia deu instruções aos Estados-membros no sentido de valorizarem as aprendizagens informais dos cidadãos, através do reconhecimento de competências, de modo a que as mais diversas experiências profissionais ou de vida possam ser reconhecidas num diploma universitário. Aponta-se mesmo o ano de 2015 como o momento de já estarem a ser reconhecidas com “canudo” universitário as aprendizagens obtidas fora do circuito tradicional académico. Afinal de contas, depois do humor português ter sido engordado com as mais divertidas piadas, a Universidade Lusófona e Miguel Relvas mais não foram do que pioneiríssimos a gerar títulos de plástico. Como algumas Universidades estão à míngua de euros, bem pode ser que com esta medida se venha a remediar a sua liquidez. Sabendo-se da vertigem nacional pela doutorice… vai ser um vê se te avias...
                2 No âmbito de Guimarães – Capital Europeia da Cultura 2012, A Guarda Nacional Republicana participou no teatro de rua “O Funeral de Portugal”. Na peça, os militares escoltaram um caixão com a forma do mapa de Portugal continental, simbolizando o enterro do país. É no mínimo irónico que, desde sempre, a gente de Guimarães, que tanto reivindica para a cidade o berço da nacionalidade, tenha agora tolerado nas suas ruas uma palhaçada deste calibre. Toda a gente sabe que tudo aquilo não passou dum simulacro da realidade. Mas há limites, mesmo para a brincadeira. O país está doente, mas já superou crises bem piores do que a actual, como atestam os seus quase nove séculos de história. Não é a patetice ideológica de meia dúzia de pretensos iluminados vanguardistas que matará o orgulho de séculos de um povo inteiro. Mas terem carpido o país com a GNR fardada, equipada, armada a preceito foi enlamear todos os seus profissionais. A GNR não pode de modo algum participar em palhaçadas deste género nem cair ingenuamente em ridículos como este. A quem também se fez o “funeral” foi ao Comandante Territorial de Braga da GNR, que foi afastado do cargo.
                3 Com o anúncio das novas medidas de austeridade, Passos Coelho conseguiu a inédita proeza de colocar todo o país e até alguns indefectíveis do partido a resmungar contra si. O país passa momentos conturbados e a grande maioria até caiu na realidade de que é preciso fazer austeridade, mas a ideia generalizada é que a Troika está a fazer de Portugal um laboratório de experiências nunca testadas em parte alguma. Por outro lado, os Socialistas, tão ou mais responsáveis quanto estes, pois foram eles quem convidaram a Troika a pôr ordem na casa, parecem mais interessados em cavalgar a onda das contestações, para capitalizar momentâneas simpatias, sabendo que se lá estivessem a receita era a mesma, do que apresentar alternativas credíveis. O Primeiro-Ministro faz lembrar aquele inglês cujo cavalo trotava muito bem, era muito pacífico, obediente, respeitador, mas que tinha um pequeno defeito: comia demasiado. Vai daí, começa todos os dias a cortar na ração para o pôr na linha. De início as coisas até nem estavam a correr mal. O cavalo obedecia, até começou a ficar mais elegante. No entanto, deixou de ser tão pacífico, tão obediente, tão respeitador. E quando o cavalo estava a chegar ao ponto ideal morreu... Com os portugueses, bem pode acontecer o mesmo.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012



FLASHBACK

Bagatelas da quinzena    

                1 Com o recreio de Agosto terminado e a euforia do calor e das praias a cheirar a passado, o país regressa ao quotidiano de todas as incertezas, da troika, de mais cortes sociais que se adivinham, da crise. Mas para deputados e governantes a crise é uma miragem, porque até viram aumentados os seus salários em cerca de 81 euros por mês. E também professores do ensino superior técnico e polícias são apanhados neste bónus, com uma variação de aumento acima dos 2%, segundo informação do Ministério das Finanças. Parafraseando aquele ex-primeiro-ministro, que andou aos papéis com os números do PIB, dir-se-á: é a vida…só que madrasta para a maioria.
                2 O negócio dos submarinos voltou a emergir neste mar azul de verão. O Ministério Público, depois de ter denunciado que documentos do processo de compra estavam desaparecidos, coisa que fez estranhar os vários ministros que ocuparam a pasta, vem agora pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal reafirmar que “novas diligências serão realizadas, designadamente solicitando a colaboração do anterior e actual Ministro da Defesa”. Quando pelo mesmo negócio, na Alemanha, já houve julgamento e condenações, nós ainda andamos aos papéis, designadamente o tal “dossier” histórico que o MP diz não saber onde está. Como ainda ninguém perguntou a Paulo Portas por ele, pode bem ser que ele saiba onde está! Com tal eficiência, esta Justiça não vai a lado nenhum. É no mínimo uma vergonha, que passados tantos anos, o negócio dos submarinos continue a navegar em águas turvas e profundas!
                3 Ao que parece, até que enfim que o Governo se prepara para cortar nas tais “gorduras” do Estado, designadamente nas fundações e observatórios que pululam pelo país todo como cogumelos em noite de chuva miudinha! Como sempre, há excelência nuns casos e oportunismo noutros. Bem pode, portanto, o Governo poupar uns milhões de euros naqueles que são autênticos embustes, que só existem para parasitar os contribuintes. São uma mina a céu-aberto, que nasceram para encher o “ego” do patrono e servir os seus acólitos mais dedicados.
                4 Diz o Dr. Mário Soares que concessionar a RTP “é uma pouca-vergonha”. Realmente, tem toda a razão, tanto mais que os benefícios que daí advém estão muito mal explicados e a redução de custos, muito duvidosa. Trapalhadas já há demais, para que é que o Governo se vai meter em mais uma? A privatização ou concessão da RTP vai criar problemas sociais, políticos, jurídicos e constitucionais. Sociais, porque é preciso explicar muito bem ao povo, porque é que se continua a pagar a taxa do audiovisual e ainda é preciso o erário público despender mais 50 milhões de euros cada ano. Políticos, porque todas as oposições estão contra, com o PS até a afirmar que voltará tudo à primeira forma, no dia em que for governo. Jurídicos, como balizarem tudo que se entende por serviço público gerido por privados. Por fim, constitucionais, porque muitos doutos na matéria apontam a medida como inconstitucional. Com tanto trabalho mais importante a fazer porque é que o Governo gasta energias, qual Dom Quixote, a derrubar moinhos de vento?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Bagatelas da quinzena    
                1 Com o colorido das feiras, festas e folias a animar o povo, com os políticos e comentadores de bancada entretidos a banhos no Algarve, as maleitas da crise até parecem aliviadas. E bem necessário é. Nos últimos tempos, a verborreia de alguns tem sido inflamada demais e o responsório demasiado frequente. A insensatez de muitos tem encrespado o panorama político. Em vez de colocarem água na fervura, gente principal, das mais diversas áreas e estatutos, tem perdido as estribeiras atirando achas para a fogueira, de tal forma que algumas delas revelam mais ódio de estimação pessoal, de infantil melindre, do que saudável crítica construtiva. Como se não bastasse a algazarra dos sindicatos, que fazem o seu papel, e o ruído repetido, até à náusea, em alguma comunicação social, estes senhores bem podiam ver claramente que o povoléu já não tem pachorra para assistir a tanto foguetório de palavras.
                2 Como de costume, aí temos o drama dos incêndios a enlutar o Portugal mais profundo. Parece ser este o fado de todos os verões. O calor, a seca extrema, a negligência generalizada, no que à limpeza das matas diz respeito, o descuido, o desrespeito pelo património colectivo e as motivações fúteis de alguns desequilibrados mentais formam um caldo explosivo difícil de dominar. Milhares e milhares de hectares de floresta são delapidados impunemente todos os anos, ficando o país cada vez mais pobre. Para se ter uma noção da tragédia, refira-se que a área ardida triplicou nos últimos dez anos. Em vez de se prevenir como seria mais razoável, passa-se o verão a remediar o mal feito. Mas que sina!
                3 ”Que se lixem as eleições”, disse Passos Coelho aos deputados do PSD. A utilização do  plebeísmo foi o bastante para agitar as águas da política. As oposições fartaram-se de “malhar” no homem, porque aquilo não é linguagem adequada para um governante. Até alguns correligionários seus sentiram-se escandalizados, mas outros aplaudiram de pé a bonomia do Primeiro-ministro. Intencional ou não, a expressão usada foi eficaz na sua simplicidade. Aliás, de há muito que Passos Coelho vem usando expressões popularuchas, mas de forte efeito mediático. Bem pode o PM estar-se marimbando para as eleições, mas quem vive mesmo lixado até ao tutano são todos aqueles que diariamente carregam no lombo as medidas de austeridade do Governo e da Troika.
                4 Vários anos decorridos, muito dinheiro gasto e muita tinta desperdiçada, o processo Freeport chega ao fim, com o Ministério Público a pedir a absolvição dos arguidos. É no mínimo intrigante ter-se perdido tanto tempo, para finalmente dar tudo em águas de bacalhau. No entanto, a montanha pariu um ratinho. A mando do juiz do processo foi extraída certidão das declarações de algumas testemunhas para que o Ministério Público abra um processo de averiguações ao antigo Ministro do Ambiente, José Sócrates. Estranha-se que face a tantas insinuações no passado, o Ministério Público nunca tenha tido a oportunidade de chamar o ex-governante a depor. A funcionar desta maneira, cada vez mais o cidadão comum acredita que há uma justiça para os poderosos e outra para os fracos. E quando assim é, algo está podre no reino da Dinamarca.