sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Flashback


Bagatelas da quinzena
                1 Depois de um longo, sepulcral, comprometedor silêncio, Duarte Lima veio a terreiro, através dos seus advogados, reafirmar a sua inocência relativamente à acusação de homicídio da cidadã Rosalina Ribeiro e solicitar o “habeas corpus” de modo a impedir a ordem de prisão decretada no Brasil. Está no seu direito fazê-lo e todo o cidadão goza da presunção de inocência até o processo transitar em julgado. Mas a fazer fé nas acusações de que é alvo, por parte das autoridades brasileiras, muito dificilmente se verá livre da teia em que está envolvido. Uma coisa é certa. Mesmo que não venha a ser condenado pelos tribunais, perante a opinião pública nunca mais se verá livre desta mancha terrível. No entanto, uma coisa intriga o comum dos cidadãos. Como foi possível que aquele alfobre de “meninos de ouro”, onde se incluíam também Oliveira e Costa, Dias Loureiro e outros, que gravitaram em redor dos governos de Cavaco Silva e que brilharam nas luzes da ribalta política de então, se tenham tornado em tão breve espaço de tempo autênticos “caretos” da sociedade portuguesa?!
                2 Em tempo de vacas magras, o governo aperta por todo lado. Com o cinto já no último furo para a maioria dos cidadãos, também o cerco vai chegar às Câmaras Municipais e Regiões Autónomas, com uma fiscalização apertada às contas e à contratação de pessoal. Toda a gente sabe dos favores políticos que se pagam após cada eleição local, do compadrio existente em alguns sítios e do autêntico albergue espanhol em que se transformaram muitas das administrações locais. Para além de obras de fachada de utilidade duvidosa, quer pela oportunidade, quer pela mais-valia para o cidadão, é escandaloso o corrupio de gente que se diz funcionário público, mas que nunca funciona.
                3 Senhores das armas, os militares sempre se entenderam como uma classe de cidadãos à parte. Nunca ninguém teve a coragem de se meter com eles e lá foram ao longo dos anos acumulando benesses e brincando às suas guerrinhas. Mas como a hora é difícil, parece que também para eles o momento do aperto chegou. Dizia Eça de Queirós que o exército é uma ociosidade bem organizada e paga pelo Estado. Tinha razão à altura e continua actual. Que sentido faz ter carradas de generais para um exército pretensioso? No entanto, sempre que no poder está alguém que politicamente não lhes cai no goto, vem logo a terreiro o inefável coronel Vasco Lourenço ameaçar com o 25 de Abril. O homem parece não entender que não é dono da coutada, nem das vontades e que o 25 de Abril de 74 foi feito precisamente para isto: trazer a democracia ao país. Como as eleições é que decidem, seja democrático e aceite a voz autorizada do povo.
                4 José Rodrigues dos Santos deu ao prelo um novo romance de nome “O Último Segredo”, onde fantasia a verdadeira identidade de Jesus. Todo o romance é sempre um simulacro da realidade e a visão da obra remete sempre para a metafísica do autor. Está no seu direito fazê-lo. Agora o que se entende, quando se mexe em coisas sérias e se brinca com a identidade de muitos crentes, é que por detrás deste género de romances a única preocupação é o dinheirinho. Pela minha parte, não darei absolutamente nada para o peditório.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Bagatelas da Quinzena

                     Depois das manifestações da “geração à rasca”, vieram as “concentrações dos indignados” e dos “ocupas”. Afinal de contas, não são só os jovens que estão à rasca, é toda uma legião de gente, pelo mundo inteiro, que vai explodindo de desagrado colectivo. Políticos, banqueiros e especuladores bolsistas arrastaram este mundo para um beco sem saída. E é para estes indivíduos sem escrúpulos e sem dignidade humana, que esta legião de gente anónima aponta o dedo acusador. Que se cuidem. Tudo na vida é como os alcatruzes da nora: tanto estão em cima, como em baixo.
                Quem viveu desde 1969 até aos dias de hoje, na mó de cima da política suja internacional, foi o coronel Muammar al-Gaddafi. Mestre do mimetismo político, jogou nos tabuleiros internacionais conforme as conveniências do momento. Foi amigo de democratas e ditadores, financiou políticos europeus e alguns deles até se deslocaram à sua tenda de beduíno para o beija-mão. Os interesses do petróleo falaram sempre mais alto e a ética política foi dada de barato. Arriscou demais, de forma arrogante e sempre venceu, porém, ultimamente, face aos ventos de mudança que sopravam no Magrebe, não percebeu que o seu tempo estava a chegar ao fim. Poderia, talvez, apesar de tudo, ter saído de cena com alguma dignidade. Mas terminou de forma violenta o reinado às mãos dos seus verdugos. Quem com ferros mata, com ferros morre, diz o ditado popular. “Vae victis!”, diziam os antigos, deitando às urtigas a dignidade humana que todo o vencido merece.
                Depois, foi degradante o espectáculo dado pelos vencedores perante o cadáver de Gaddafi. A romaria mórbida em redor do corpo do ditador, os vídeos e as fotografias tiradas a rodos, a exibição do cadáver, como de um troféu de guerra se tratasse, foi chocante e em nada dignificou a magnanimidade que vencedores devem revelar. É caso para dizer: “Voe victoribus!”Ai dos vencedores!
                Na política caseira, o Presidente da República surpreendeu e causou até mal-estar e espanto no seio do governo, quando se referiu, a propósito dos cortes anunciados para os funcionários públicos e pensionistas, à “equidade fiscal”. Acusado muitas vezes por estar calado, desta vez Cavaco Silva falou demais e extemporaneamente. Foi um tiro certeiro no frágil porta-aviões do governo. O PS rejubilou e Seguro tem agora uma muleta valiosa para tomar uma posição dura relativamente ao Orçamento de Estado para 2012. O homem que tanto quer passar por cima das brasas sem se queimar, saiu desta vez um pouco chamuscado. Não se livrou de críticas vindas do seio da sua família política.
                Atrás dos acontecimentos e aparentemente sem grande convicção, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy lá vão tentando salvar o euro do abismo. No entanto, não se vê por parte do eixo político Berlim/Paris um golpe de asa capaz, que faça sair a Europa deste marasmo em que mergulhou. Substituindo-se aos restantes países, Alemanha e França aparecem como os guardiões do templo europeu, ignorando acintosamente que a UE é composta por mais 25 Estados soberanos.

publicado no JV

domingo, 26 de junho de 2011

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena
            O Bureau of Investigative Journalism revelou que a Comissão Europeia, entre 2006 e 2010, gastou despudoradamente dinheiros públicos em despesas sumptuárias. Nesta Europa em crise, e em que diversos países passam as “passas do Algarve”, o exemplo devia vir de cima, mas afinal, como diz o ditado popular, bem prega frei Tomás!...Só em jactos particulares, foram gastos mais de 7,5 milhões de euros! Os comissários esbanjaram milhões em estadias de luxo, em joalharia famosa e até em orquestras de excelência para animarem festas privadas, para já não falar de viagens a paraísos exóticos, como Nova Guiné, Papua, Gana e Vietname. Até o nosso circunspecto compatriota Durão Barroso não se coibiu de apresentar uma conta de 28 mil euros por uma viagem de quatro dias a Nova Iorque. Enfim, os demais que apertem o cinto, se ainda o tiverem!
            Cá por casa, também vem constantemente à tona exemplos do pouco escrúpulo no uso do dinheiro dos contribuintes. É o caso da empresa pública de transportes ferroviários, que apesar de ter um prejuízo a rondar os 195 milhões de euros e uma dívida acumulada de 3.3 milhões de €, os cinco gestores da CP, (logo cinco!), não têm pejo em gastar 55 mil euros anualmente na sua frota de Mercedes. Depois é greves e mais greves e os utentes da CP que aguentem a carga e o país que pague a buchada.
            Terminado o ruído da campanha política, o país regressou à saudável normalidade e à aparente descompressão social, pelo menos para já.
            Rei morto, rei posto. Como Sócrates tinha referido que não governaria com o FMI, o povo fez-lhe a vontade e apeou-o do trono. Mas apesar do revés eleitoral, foi igual a si mesmo, qual estrela cadente em noite eleitoral. Discurso pensado, sustentado no teleponto, portanto elaborado com tempo, para agradecer aos portugueses a honra de lhe terem permitido servir Portugal e para garantir que vai “andar por aí”, certamente para depois aparecer lá para as próximas eleições presidenciais. Um actor perfeito! Também na reunião de cúpula do PS e perante os seus pares, despediu-se emocionadamente com um “eu adoro-os”, o que levou muitos dos devotos camaradas às lágrimas. São assim os bons politicantes!
            Consta que vai viver um ano sabático em Paris para estudar filosofia. Pode bem ser que a cidade da luz dê ao neófito filósofo uma visão coerente do universo e lhe traga a serena beatitude que o liberte das paixões internas e das contingências externas. Como já bebeu na noite eleitoral a cicuta da derrota, que siga as pegadas do seu homónimo grego, Sócrates, por antonomásia o filósofo, cuja divisa délfica era Conhece-te a ti mesmo e cuja condição primeira deste exame interior era o reconhecimento da própria ignorância. Porque só é sábio, aquele que sabe que nada sabe. É este o único caminho que leva ao achamento da verdade, que não é criação mental, nem habilidade dialéctica, como acontecia com a retórica dos sofistas, mas sim descoberta consistente, duradoira. Verdade que, enquanto PM, lhe passou muitas vezes ao lado.
in O Jornal de Vieira

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Flashback

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena

            O caso do senhor Dominique Strauss Kahn tinha todos os ingredientes para ser capa dos periódicos ou abertura dos telejornais, como de facto foi, porque reunia em dose explosiva sexo e poder. Ainda muita tinta correrá, até se apurar cabalmente se o homem foi leviano no comportamento, ao cair nos três inimigos da alma, principalmente o último, ou vítima de armadilha bem montada. Há pistas que apontam para um linchamento bem orquestrado, uma espécie de castigo pelas posições que Strauss Kahn tinha vindo a tomar à frente do FMI, que ameaçavam a elite financeira mundial e o comportamento hegemónico dos Estados Unidos no seio da organização. Os banqueiros mundiais, altamente responsáveis pela crise que atravessa os continentes, não viam com bons olhos as mudanças que o senhor Strauss Kahn estava a introduzir no FMI, no sentido de o transformar numa organização de fim mais filantrópico, de ajuda sincera aos países em dificuldade, e não uma agência de agiotagem que explora até ao tutano os povos que se encontram em dificuldades económicas e financeiras.
            Deixando de lado essa questão, é de referir, no entanto, que a justiça americana foi cega, agiu com celeridade e não olhou ao estatuto social do arguido. Se o incidente tivesse ocorrido por estas paragens, certamente que a justiça deixaria muito a desejar. Sabemos como os tribunais portugueses piscam o olho aos poderosos, que escapam das malhas da justiça como enguias luzidias em noite luarenta de pescaria. Embora salvaguardando as distâncias, veja-se o que aconteceu com uma magistrada do Ministério Público que foi detectada, em Cascais, a conduzir em contramão e com uma taxa de 3,08 de alcoolemia. A detenção foi feita pela Polícia Municipal, mas o processo foi logo anulado e a senhora libertada, porque o tribunal entendeu que a detenção fora ilegal. Sabemos o que acontece ao comum dos mortais quando é apanhado nas mesmas condições. É submetido a julgamento sumário e leva com as devidas penalizações legais. Pequeno exemplo revelador de como a nossa lei processual está a léguas de distância das americanas, quando usa dois pesos e duas medidas.
            Sabendo-se da crise que o país atravessa, com falta de dinheiro para tudo, atraso nos compromissos do Estado para com os fornecedores e até da falta das coisas mais comezinha nas repartições públicas, como se compreende que a PSP tenha gasto 62 mil euros em relógios de luxo para o director nacional dispor, a seu belo prazer em oferendas, em actos oficiais, a entidades que visitam aquela força de segurança.
            Enfim, ainda não aprendemos que o dinheiro dos impostos, que é dos cidadãos, deve ser bem gerido e gasto com parcimónia. Até parece que a ordem é rica e os frades são poucos! Por isso, toca a gastar à tripa forra. Não temos emenda.
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena
           
            Com a Troika fora de portas, temos vindo a assistir ao blá-blá-blá da campanha política, cujo ruído o povo parece já não ter pachorra nem tempo para ouvir.
            As sondagens que vão saindo nos jornais, à medida de todos os gostos, são bem reveladoras do divórcio que existe entre a classe política e os cidadãos. Se umas dão a vitória ao PSD, se outras ao PS e ainda outras apontam para o empate técnico, há uma percentagem que salta aos olhos, mais ou menos idêntica em todas elas, que é o número elevado de eleitores que não responde ou se abstém e que se situa bem acima dos 40%. Este dado devia fazer clique nas cúpulas partidárias.
            Os homens da troika europeia estiveram cá e em tempo recorde diagnosticaram os males de que padecemos, coisa que nestes anos todos os partidos do dito centrão nunca tiveram coragem de fazer e pôr em prática. Damos jus ao complexo de que padecemos. Estamos sempre à espera do encoberto, uma espécie de D. Sebastião, o que vem de fora a realizar o milagre de Canã. Milagre que nos vai custar os olhos da cara, até porque a Europa da solidariedade e dos valores sociais não existe. A dimensão social desta velha Europa assenta somente no valor dos cifrões. Os nossos generosos amigos europeus, os do dinheiro, tratam bem da sua vidinha, de que é exemplo a taxa de juro de cerca de 6% que vamos pagar pelo empréstimo.
            Entrementes, Sócrates, artista em truques e alçapões, ainda teve tempo para aparecer numa cena trágico-cómica a anunciar ao País o que o acordo não contemplava. É mesmo o master-chef da culinária política! No meio daquela lista de benesses, só lhe faltou garantir que o solstício de verão estava garantido e que o título de campeão nacional seria para o F.C. do Porto. O PM entrou-nos em casa, à hora do jantar, no papel de herói da fita e deixou para o ministro das finanças o de carrasco. Feitios! Aliás, é um homem de certezas. Disse que não governaria com as imposições do FMI, mas já deu o dito por não dito, truque a que já estamos habituados.
            Na franja da esquerda, Jerónimo e Louçã dizem ter a solução do país na manga, sem o FMI. Foi pena ter vindo a Troika! Tínhamos a resolução intra muros. O PCP fala de uma solução patriótica de esquerda, presume-se com o BE e os Verdes, mas é coisa que nesta democracia burguesa percentualmente não colhe. Será que estão a contar com a ajuda dos Gnomos escandinavos, esses sim generosos europeus, mas que habitam lugares reservados num mundo paralelo ao nosso?
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena
           
            Antigamente, a quadra quaresmal não era propícia ao aparecimento de ninharias e bagatelas noticiosas. Era tempo de se viver em profundidade, em silêncio e sem desvios pequenos a grandiosidade do mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Até as próprias rádios se associavam ao luto quaresmal e só transmitiam música clássica, de modo a criar uma atmosfera de meditação e recolhimento. Outros épocas outros modos. No entanto, como sinal dos tempos, aqui e agora, o país vive na espuma dos dias, no efémero do momento, num frenesim noticioso sem paralelo. São tantos os jornais e os canais televisivos que há necessidade de tudo transpor para a opinião pública. Veja-se o que se passa com os homens do FMI e afins que não têm o mínimo de sossego, tendo muitas vezes de sair pela porta do cavalo para não enfrentarem os microfones das rádios e as objectivas da televisão.
            Neste contexto, sangue, lágrimas e assaltos são o pão-nosso informativo. Por vezes, até um pouco anedóticos, como foi o caso do roubo que aconteceu no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra, donde foram desviados dois chifres de rinoceronte do século XVIII e cujo valor no mercado negro internacional pode atingir 80 mil euros. Nada escapa aos larápios. E em tempo de crise, os ditos chavelhos, velhos de mais de duzentos anos, também não escaparam à roubalheira generalizada que varre o país de lés-a-lés.
            Quem também foi notícia, porque apanhado em ramo verde, foi o deputado do PS, de seu nome José Lello. Através do Facebook, o representante do povo apelidou de “foleiro” o Presidente Cavaco Silva.” Numa justificação esfarrapada veio depois a terreiro dizer que foi uma atitude involuntária. Referiu, ter dito em “português redondo” aquilo que poderia ter sido dito em “politiquês”. No entanto, o senhor deputado não é virgem neste seu jeito truculento de falar dos outros políticos. Em tempos, já tinha apelidado o Presidente de “ressabiado. Mas este episódio só vem revelar os mimos que os representantes do povo, entre eles, na calada do BlackBerry, trocam entre si.
            Dei-me ao trabalho de consultar a Dicionário Etimológico e “foleiro” vem do latim folle- “fole, odre”. Bem vistas as coisas e indo ao sentido etimológico do termo não sei bem qual dos dois será mais fole, se o acusador, se o acusado. Até porque a nível popular, foleiro também significa burro de moleiro que transporta os foles ao moinho. Sabendo-se que José Lello faz parte do grupo duro de Sócrates e funciona um pouco como cavalo de tróia do chefe, quando é preciso dar a cara em tudo o que seja truculência partidária, fico baralhado em quem assenta melhor a albarda de foleiro.
in Jornal de Vieira

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Bagatelas da quinzena

            Em jeito de pastiche do poema De Tarde, de Cesário Verde, arrisco a dizer que nesta quinzena houve coisas de bagatela, que, “sem ter história nem grandeza, em todo o caso davam uma aguarela” rósea. Com efeito, num momento em que o país está entre a parede da bancarrota iminente e a espada da ajuda comunitária, há gente feliz e com muitos euros. Duas cores mimosas merecem fazer parte de tal matiz. Soube-se que um tal Rui Pedro Soares, que renunciara à administração da Portugal Telecom, em Fevereiro de 2010, onde tinha sido colocado, segundo consta, não pelas competências técnicas, mas pela cor política, recebeu a título de remuneração, por parte da operadora telefónica, a gorda maquia de 1,212 milhões de euros, sendo 648,7 milhões em jeito de indemnização. É obra! No Euromilhões, para se conseguir o estatuto de excêntrico, sempre é preciso fazer qualquer coisinha. Tem de se acertar simultaneamente nos cinco algarismos e nas duas estrelas. Bem, neste caso foi tudo muito mais fácil! Bastou acertar na estrelinha cor-de-rosa da política.
            Com outro godé de tinta contribuiu a Carris, empresa pública de transporte rodoviário da capital. Então não é, que a administração lá do sítio resolveu renovar a sua frota automóvel, com quatro carros da gama luxo, a saber, Mercedes, BMW e Audi, viaturas bem ao nível dos excelentes gestores, como o revela o “buraco” existente no orçamento, no valor de 775,5 milhões de euros. É caso para dizer, que face ao momento que o país atravessa, a administração da Carris descarrilou completamente. Escusado será dizer que os gestores que por lá andam são aqueles que têm os patins do partido do poder. E assim se pinta a aguarela da democracia…
            Para terminar, é de referir a paleta de cores e a festa de arromba que foi o congresso do PS em Matosinhos. Ao jeito hollywoodesco, conseguiu-se eclipsar a festa que anualmente se faz em honra do Senhor de Matosinhos e que é uma das romarias maiores do norte do país. E bem! Qual César Augusto, o Senhor Engenheiro merece-o, sempre foi eleito com 93,3% dos votos dos correligionários, coisa que só acontece lá para a Coreia do Norte. E para gáudio da família tonitruante, toda a oposição serviu de alimento às feras do Coliseu, a começar pela delegação social-democrata, recebida debaixo de um coro de assobios e impropérios. É assim que anfitriões bem-educados recebem os convidados.
            Coisas de bagatela, mas que em todo caso davam uma aguarela.
            Assim vai este país!
in Jornal de Vieira

Flashback

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Bagatelas da quinzena

                Foi notícia que os humanos começaram a controlar o fogo apenas há 400 mil anos, ao contrário dos 1,6 milhões de anos que se pensava. O fogo foi importantíssimo no processo da hominização, ao ponto de encaminhar o homem para grandes alterações psicossomáticas, religiosas, comportamentais e sociais. O fogo tanto é bem como mal. Tanto brilha no Paraíso com arde no Inferno. Tanto é prazer, como castiga qualquer desobediência a quem com ele brinca.
                Não é sem sentido o aforismo popular de que “quem brinca com o fogo queima-se”. Foi o que aconteceu ao nosso Prometeu que tanto brincou com o fogo da verdade e da mentira que foi punido. Agora, as águias da oposição vão-lhe devorando os fígados até às próximas eleições, lá para o verão.
                Também foi destaque a celebração do Dia Mundial do Sono. Referiu-se que 12% dos portugueses já adormeceram ao volante, sendo a sonolência causa de muitos acidentes rodoviários. Que os portugueses são muito dorminhocos e que até nestes últimos seis anos quase atingiram colectivamente o coma profundo, isso é uma verdade insofismável. No entanto, a manifestação que aconteceu no dia 12 de Março parece ser sintoma da saída da letargia em que estiveram mergulhados. Avós, filhos e netos encheram pacificamente as praças e avenidas das cidades para mostrar aos senhores do poder instalado que este não é o melhor caminho a seguir por quem está à rasca.
                O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos veio estes dias dar razão à Itália ao autorizar a presença de crucifixos nas salas de aula das escolas públicas, depois de uma queixa feita por uma mãe italiana. Segundo o TEDH, compete a cada estado membro legislar sobre o assunto. Ao menos nesta temática, não somos formatados pelas directivas europeias. Por cá, em tempos, também se esboçou um movimento sinistro, que se esfumou, no sentido de arredar todos os símbolos religiosos dos espaços públicos. Toda a gente sabe que os Estados devem ser aconfessionais, mas não querer aceitar o papel do cristianismo na modelação da Europa é cegueira e ignorância primárias.
                A maior lua cheia das duas últimas décadas aconteceu na noite de sábado do passado dia 19 de Março. Com o perigeu lunar, tivemos uma lua 14% maior e uma luminosidade 30% maior. Para além de satélite da Terra, a Lua como astro por excelência da noite, também é símbolo dos ritmos biológicos e do tempo que passa. Com as suas quatro fases, simboliza a transformação e a renovação. Premonitória, ela trouxe consigo, neste perigeu, um novo e desejado ciclo político para o país.   
                Para terminar, foi parangona em capa de jornais a indemnização que Armando Vara recebeu do BCP pela sua saída da gestão executiva do banco. Mais de meio milhão de euros sem ter trabalhado! É obra! Depois querem que o povo entenda porque é que os bancos não pagam mais impostos ao Estado! Pudera. Se o distribuem desta maneira a alguns apaniguados, como há-de sobrar para impostos?! Mas o caso deste senhor é o paradigma do carreirismo e oportunismo políticos. Do cinzentismo bragançano rapidamente saltou para o estrelato político lisboeta. E daí a ministeriável foi um pulinho. Depois das embrulhadas em que se viu envolvido no governo de Guterres, frequentou a célebre Universidade Independente e, de simples caixa bancário, saltou para a cadeira de banqueiro. Divinal! Faz jus ao nome que tem, porque na arte do salto à vara político não há campeão olímpico que lhe possa pedir meças. 
in Jornal de Vieira

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ode ao FMI



Vem sentar-te comigo, Sócrates, à beira da crise.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que o FMI está aí, e não estamos de mãos enlaçadas.
                 (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, como políticos sérios, que a crise
Não passa e fica, nada deixa e sempre regressa,
Vai parar sempre muito longe, às agências de rating,
                Mais longe que o inferno.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena entendermo-nos.
Quer pactuemos, quer não pactuemos, está cá o FMI.
Mais vale aceitá-lo desgraçadamente
                 E sem desassossegos grandes.

Vociferemos, com ódios, com paixões que levantam a voz,
Com invejas que dão movimento demais aos olhos,
Sem cuidados, porque se os tivéssemos o FMI sempre correria,
                 E sempre nos apertaria o cinto.

Lutemos aguerridamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, fazer pactos e tratados e coligações,
Mas que mais vale estarmos de costas um para outro
                Ouvindo correr o FMI e vendo-o.

Abramos a caça ao voto, pega tu neles e deixa-os
Germinar, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que caprichosamente não vemos nada,
                 Povo inocente da decadência.

Ao menos, se venceres as eleições, lembra-te de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem pactuamos,
                 Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu fores a Belém ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim à - beira-crise,
                 Líder triste e com o FMI no regaço.

 Nos Paços do Coelho


                                                                                                             

domingo, 10 de abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Frei José Sócrates


Nomeado Superior da Ordem dos Frades Mendicantes, para a província portuguesa, segundo informa o diário "Couve de Bruxelas".

sábado, 2 de abril de 2011

Fernando Pessoa Heterónimos

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Felizmente Há Luar

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Memorial Do Convento

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Grandes Livros - Episódio 1: "Os Maias", Eça de Queirós (Parte 4/5)

Os Maias

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quinta-feira, 31 de março de 2011

D. Sócrates I - O Formoso



Que todo o Reino pôs em muito aperto.
As terras sem defesa, esteve perto
de destruir-se o Reino totalmente,
que um fraco Rei faz fraca a forte gente.

in Os Lusíadas, Canto III, 138

quarta-feira, 30 de março de 2011

O Homem do Povo

Com as eleições à porta, vejam como se faz um democrata, mesmo que no seu íntimo não passe de um coronel. 
Lá como cá, que diferença há entre a ficção e a realidade?


segunda-feira, 28 de março de 2011

Sem comentários. Best of socrates (2009 - 2010)

E diz este senhor que os outros é que dão cambalhotas! Ele é o mestre do contorcionismo político.
Vejam... Vale mais uma amostra do que mil palavras...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pedro Passos Coelho


"O homem sábio tem duas línguas: uma para dizer a verdade, outra para dizer o que é oportuno"
                                                         Eurípedes

Primeiro Ministro


"Não se deve amarrar um navio a uma só âncora, nem uma vida a uma só esperança"
                                                   Epicteto



sábado, 19 de março de 2011

GÉNESIS


Ah, beleza encontrada
deste painel de montes, céu e água,
que o acaso pintou
com cega brutalidade,
e deixou
na pura exactidão que exige a eternidade!

in Antologia, Miguel Torga

Homenagem a todas as mulheres sardentas


Tu, nesse corpo completo,
Ó láctea virgem doirada,
Tens o linfático aspecto
Duma camélia melada.

Cesário Verde, Obra Poética Integral


sexta-feira, 18 de março de 2011

Nova Igreja de S. Bento da Porta Aberta


Com a festa em honra de S. Bento a 21 de Março, aqui deixo uma perspectiva da nova cripta, inaugurada em 1998, imponente na sua arquitectura e beleza.

sábado, 12 de março de 2011

Primavera à Porta




Com a chegada da primavera, os insectos estão de volta para o trabalho importantíssimo que desempenham na natureza.
Apesar de mal-amados, eles têm um papel valiosíssimo nos ecossistemas.
São os animais mais abundantes à face da Terra, afectando as pessoas e os restantes seres vivos. Causam 
benefícios e prejuízos, no entanto, sem eles, o planeta não sobreviveria muito tempo.
Muitos insectos são considerados daninhos, mas a maioria deles é benéfica para a vida do homem e para a sustentabilidade do meio ambiente. Muitas espécies estão a ser vítimas dos produtos químicos usados na agricultura e o declínio das diversas populações de insectos polinizadores constitui um sério problema ambiental para a humanidade.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cântico Negro de José Régio

Num momento de tantas dúvidas e incertezas, nada melhor do que ouvir este poema, na voz de João Villaret



Dr. Francisco Xavier de Araújo



Médico natural e residente de Terras de Bouro, aí exerceu clínica toda a vida. Ficou na memória dos conterrâneos pela forma solidária como desempenhou as suas funções.
Em consequência de um abalroamento da moto em que se fazia transportar por uma autocarro  que o projectou no ar, deixando-o gravemente ferido, foi necessário amputar-lhe uma perna. Mesmo assim, nunca deixou de acorrer a todos, incansável, percorrendo estradas e caminhos de terra na sua Norton, que também serviu muitas vezes para dar boleia a quem necessitasse. Ainda hoje existe em Covide uma placa assinalando a data em que passou por lá a primeira moto, que era a sua.
Nunca casou. Morava com uma irmã solteira e um irmão casado e sua mulher. Eram uma família abastada, que tinha terras de cultivo e trabalhadores por conta, mas viviam com alguma austeridade. O único luxo que se conhecia ao Dr. Xavier era andar com notas de dinheiro muito novas dentro de uma agenda, de onde extraía uma sempre que havia peditórios na missa do Sanntuário de São Bento da Porta Aberta, coisa que causava espanto e admiração aos pobres fiéis que só podiam contribuir com moedas.
Morando em Rio Caldo, foi médico da Casa do Povo local e da de Covide e dava consultas particulares. Quando era procurado por pessoas pobres, em vez de receber pagamento, era ele quem lhes dava dinheiro para os medicamentos. Em compensação, no Natal enchiam-lhe a casa de presentes, quase sempre produtos da lavoura ou animais de criação.
A sua efígie em medalhão foi colocada no Largo Padre Martins Capela da vila de Terras de Bouro, ao lado da do Dr. Artur Adriano Arantes, num monumento inaugurado em 1990. Além dissso, o seu nome figura na toponímia local.
In Médicos Nossos Conhecidos, de Ana Barradas e Manuela Soares, , Medinfar, 2001

NB: Uma outra efígie sua figura em Paredes, Rio Caldo, junto ao Posto de Turismo, numa homenagem da Junta de Freguesia de Rio Caldo, onde nasceu em 1901 e faleceu em 1984.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Lamento



Porque paira tão alto o teu desdém,
Deus das velhas montanhas de granito?
Rasgo a carne a subir aonde o meu grito
Te diga a solidão que me devora,
E quando aí chego a rastejar, contrito,
É mais acima que o mistério mora!

M. Torga - Diário VI - Gerês 11 de Agosto de 1952

Rio Cávado

Passeio
Olho as pedras roladas do teu leito,
Rio de sonho que me desafias
A cantar, a cantar noites e dias,
Como um velho poeta insatisfeito.


Pedras roladas, os teus versos brancos,
Jóias de inspiração
Arrancadas ao sono dos barrancos
E a brilhar no trajecto da canção.

(Miguel Torga - Diário VI - Gerês, 8 de Agosto de 1952)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Reduzir número de deputados

Face à verborreia instalada no "Para lamento" sobre o número de deputados, só vejo uma maneira de resolver o problema... É "zipar" os ditos cujos para que a "coisa" emagreça e fique mais barato aos contribuintes...