domingo, 16 de dezembro de 2012


Bagatelas da quinzena   
 
 Que os dirigentes políticos prometem uma coisa quando estão na oposição e fazem o seu contrário no governo é algo a que os portugueses já estão habituados. Daí o divórcio entre eleitores e eleitos ser cada vez maior e a credibilidade da classe política andar pelas ruas da amargura. Aliás, o revezamento dos partidos não se deve tanto ao mérito das propostas, das soluções que apresentam enquanto oposição, mas às asneiras que o poder vai fazendo, que acabam por os tombar do poleiro. E são tantas as trapalhadas do governo de Passos Coelho, que o povo parece que está mortinho por o ver cair de maduro como maçã serôdia. Uma das últimas trapalhadas foi dizer que as facilidades dadas aos gregos também seriam aplicadas aos portugueses. Mas, qual não é o espanto geral, quando passados dias, o ministro Gaspar vem dizer o contrário, porém a culpa foi dos portugueses, porque fizeram uma “inqualificável confusão”. No mínimo é fazer dos portugueses uns atrasados mentais, porque não conseguem acompanhar, mesmo au ralenti, as sequências narrativas do responsável pela pasta das finanças. Enfim, um bando de patos bravos é o que os portugueses são!
                Que a Justiça é lenta, que existe uma para pobres e outra para ricos, toda a gente o apregoa. E como se tanto não bastasse, a receita do bolo fica completa com a violação constante do segredo de justiça. Quantas vezes, a polícia ainda não fez as buscas domiciliárias e já tudo foi bufado para os jornais ou até para as televisões que, de câmaras apontadas, estão prontas para o que der e vier. Depois fazem-se grandes parangonas nos jornais e abrem-se noticiários televisivos com suspeitas generalizadas, como se o visado ou os visados já estivessem condenados. Foi o que recentemente aconteceu com o antigo ministro das Finanças Medina Carreira. Parece que tudo não passou de um equívoco grave, mas que colocou o visado na mó de baixo da opinião pública. Quando estas situações acontecem, o Ministério Público e os Juízes prestam um péssimo serviço ao país. No Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, já o Corregedor e o Procurador de então aparecem na galeria de personagens onde são escarnecidos severamente! Mas que sina a nossa!
                Foi noticiado que uma nova classe de dirigentes inter-municipal vai ser criada, cerca de uma centena, que vão receber remuneração principesca. Afinal de contas, o Estado não faz a dieta de que tanto fala e alguma apetitosa gordurazinha vai sobrando para alimentar estes boys. Fala-se que os lugares destinam-se a ex-autarcas impedidos de se candidatarem a novo mandato. Se assim for, parafraseando o sapateiro de Braga, ou há moralidade ou comem todos.
                Nem tudo é negativo. A actual administração do Conselho de Administração do Parlamento, presidido por Couto dos Santos, vai renegociar a faustosa frota automóvel que herdou de José Lello, para pôr alguma decência na situação. Ao que consta, os carros topo de gama serão substituídos por outros mais modestos. É um gesto que cai bem, porém poder-se-ia ter ido mais longe. Por que não, o Governo fazer o mesmo? Também, por que carga de água, os quatro vice-presidentes da Assembleia da República hão de ter direito a carros topo de gama e a motorista? Simples curiosidade: que musiqueta ouvem enquanto andam de cu tremido pelas calçadas de Lisboa? Feliz Natal.