domingo, 20 de outubro de 2013

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena   
 
Nas eleições autárquicas, um “tsunami” rosa varreu o país de norte a sul, mas foi uma vitória de contentamento descontente. Com efeito, o PS, apesar de ter vencido mais câmaras, perdeu muitos votos em relação às eleições de 2009. A CDU, que nestas coisas de fidelidade e devoção partidária não brinca em serviço, também saiu reforçada em número de municípios. O CDS, à boleia, lá conseguiu que o “penta”, em noite fúnebre, trouxesse um brilhozinho aos olhos de Portas. Com excepção do Bloco, que desapareceu do mapa, transformando-se num partido de berliques e berloques, e do PSD, o miserável da noite, todos os outros cantaram vitória, cada um à sua maneira. Mas em vez de entoarem loas e carpirem mágoas, melhor lhes fora, a todos, meterem a mão na consciência e interrogarem-se sobre a razão de ser de tão elevada abstenção, cerca de 47,4%, e de o número de votos brancos e nulos terem sido mais do dobro do que em 2009. Esta gente silenciosa, sim, foi a grande vencedora vencida das eleições. Também a quantidade enorme de Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais conquistadas por cidadãos independentes não é despiciente. Os sonhos e cansaços da maioria dos eleitores ficaram todos do lado de fora das urnas. A democracia empenhada e participativa está de rastos, porque a maioria do povo já não acredita nestes partidos de féis carreteiros que transportam para o poder os interesses pessoais e de grupo em que profissionalmente se movem.
                Mário Soares não pára, continua a zurzir forte e feio no Governo sempre que os jornais, rádios e televisões lhe dão oportunidade de pôr a boca no trombone. Em entrevista conjunta à TSF e ao DN, o ex-presidente apontou baterias aos seus actuais ódios de estimação: Presidente da República e Governo. Num país democrático, cada um é livre de asnear o que quiser, mesmo que sejam obtusos os disparates. As calinadas só comprometem o seu autor. Com efeito, não poupou nos epítetos, tais como “esses tipos”, “gente desonesta”, “delinquentes”, quando se referia a membros do governo. Esta linguagem não se estranharia se viesse da extrema-esquerda ou congéneres. Agora, saída da boca de alguém que já ocupou os mais altos cargos políticos do país, não fica nada bem. Até porque, quando fala, não é propriamente para o boneco. E neste momento crucial, em que a cólera social ainda está felizmente em lume brando, o que mais se pede é que os principais actores políticos não sejam os primeiros a atirar gasolina para a fogueira. Também Cavaco Silva, velho e longo ódio de estimação, não escapou à diatribe, porque “anda sempre lá por fora” (olha quem fala!) e “não diz uma p’ra caixa”. Como ramalhete de toda a entrevista, até sugere “ não pagar à Troika” e que os tais “delinquentes” “deviam ser todos julgados”, presume-se, e condenados. Neste ponto, até se pode concordar com a ideia, desde que esses julgamentos tenham efeito temporal retroactivo até à altura em que esse senhor foi responsável por três governos.

Com cortes e mais cortes, parece que, desta vez, as subvenções vitalícias dos ex-políticos, para as quais nunca descontaram, e um novo pacote de corte dos custos do sistema eléctrico sempre vão em frente. Alguns visados já vieram a público refilar, dando sinal de dor de parto. Falam em gordos direitos adquiridos com um descaramento sem limite. E que dizer a todos os outros, cujos magros direitos adquiridos já foram à vida há muito tempo?!
FLASHBACK

Bagatelas da quinzena 
   
Os casos “Swap” e BPN têm marcado a agenda política nacional. E como em tudo, o que é demais aborrece. Inicialmente, a ideia da maioria de desencovar os “Swap” era para servirem de arma de arremesso, de acerto de contas com o governo anterior. Mas quem acabou por se ver enredado na sua própria teia conspirativa foi o Governo, através da figura da actual Ministra das Finanças. Virou-se, assim, o feitiço contra o feiticeiro. E como se o assunto não chegasse para atrapalhar Passos Coelho, eis que está de volta o famigerado BPN e pela mão do actual Ministro dos Negócios Estrangeiros. Com o BE a morder-lhe acintemente as canelas, acusando Rui Machete de ter mentido ao Parlamento, o visado lá teve de vir à praça pública explicar o incompreensível. Em comunicado chegado à imprensa, para o Ministro, tudo não passou de uma “incorrecção factual”. Já se tinha ouvido e lido a palavra “ inverdade” e outras de igual semântica a assear a vergonha da palavra “mentira”. Mas “incorrecção factual” é a primeira vez. Com estes patuscos políticos está-se sempre a aprender….
                Como não são estúpidos, nem dão ouvidos às apreciações depreciativas que no exterior fazem a Angela Merkel, os alemães elegeram-na para mais um mandato governativo. Assim, lá vai continuar como chanceler, dirigindo a Alemanha de modo muito pragmático por mais quatro anos. E foi por pouco que não conseguiu a maioria absoluta, o que seria um marco histórico nas eleições alemãs. A Alemanha sempre soube renascer das próprias cinzas, enquanto outros, nos quais nos incluímos, sempre fizeram do cinzentismo a sua essência. Por cá, ficou muita gente de beiço caído. Mas quem ficou deveras ressabiado foi Mário Soares. De forma pouco atinada, o ex-líder do PS afirmou que a chanceler não ganhou as eleições porque “não foi maioritária”. Ora nem mais! Assim sendo, para Mário Soares só se ganham eleições quando se tem maioria. A patada não é mais do que inócua, no entanto fica o aviso para António José Seguro.

As Eleições Autárquicas tiveram o seu lado “sui generis”. De início, deu logo para perceber que as eleições seriam mais legislativas do que autárquicas. Até porque o apagão mediático às candidaturas locais, por parte das televisões, contrastou com os flashes jornalísticos oferecidos aos dirigentes nacionais que, aproveitando a boleia do folclore local, fartaram-se de desancar no Governo, impedindo deste modo os candidatos autárquicos de ter pronúncia política própria. Tivemos como assunto de rua o requentado espectáculo daquilo que tem sido o martelar dos lugar-comums dos debates parlamentares. Fizeram destas eleições locais um teste à governação PSD/CDS, mas cujo alcance político imediato será nulo. Feitas as contas, gastou-se no carnaval, a bem da democracia, cerca de 10 milhões de euros. Foi quanto o festim despendeu na gritaria dos megafones, nas coloridas palas dos barretes, nos toscos cartazes das rotundas e na vara de porcos bísaros assados no espeto. Winston Churchill disse que “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. Apesar dos defeitos, ainda não se encontrou sistema político melhor. Mas que a democracia é uma longa e penosa paciência, lá isso é. Ter de aturar tanta demagogia, manipulação e hipocrisia é missão quase sobre-humana.

terça-feira, 26 de março de 2013


Bagatelas da quinzena  
  
Nos últimos tempos, as Forças Armadas têm dado sinais generalizados de descontentamento. E já não são só as associações militares e as larachas do Otelo e Vasco Lourenço a alvejarem as medidas do governo, também altas e respeitáveis patentes, na reforma e na reserva, dos diversos ramos, o fizeram recentemente. A crise chega a todos os lados e a família militar não pode ficar de fora do esforço sacrificado que a toda gente toca, claro está, sem colocar em causa a sua capacidade operacional. O Governo fala em cortar 218 milhões de euros na sequência da reestruturação do sector. É generalizada, na opinião pública, que as Forças Armadas precisam de ser redimensionadas à realidade económica, social e política do país. Como se compreende que, dos cerca de 38 mil homens das Forças Armadas, mais de metade sejam altas patentes (almirantes e generais), oficiais e sargentos? Por cada vinte soldados, há trinta graduados! É absurda tal macrocefalia! Acabar com a profissionalização, voltando ao serviço militar obrigatório, é uma medida que se aplaude. Para além de se poupar milhões de euros, a prestação do serviço militar obrigatório poderá ser uma escola de valores para a juventude, que da vida pouco ou nada sabe. A Tropa é uma boa escola.       
                O famigerado movimento dos reformados indignados foi encabeçado pelo ex-banqueiro do BCP, Filipe Pinhal, que, com pompa e circunstância, veio a público questionar o governo pelas cortadelas de que têm sido vítimas. Com uma reforma choruda, de muitos milhares de euros, presidir a um movimento destes revela, desde já, muito pouca pinha. Melhor lhe fora ter ficado sossegadinho a um canto, não fazendo muitas ondas, assim não teria passado pela vergonha que passou, quando um anónimo lhe atirou à cara, em plena apresentação, que face às reformas de miséria que a maioria dos aposentados recebe, ele é um privilegiado de ouro. A cereja em cima do bolo era terem como patrono Jardim Gonçalves e a sua reforma de 174 mil euros! No passado, falando das suas “pequeninas” reformas, já Cavaco Silva tinha ficado muito desfocado na fotografia da opinião pública. Há gente que não há meio de aprender com os erros dos outros, nem tem pingo de vergonha na cara. Irra!
Apesar de morto, a figura de Hugo Chávez enche as ruas de Caracas e serve de mote às próximas eleições presidenciais. Figura controversa, populista e narcisista, Chávez cultivou uma democracia muito “sui generis”. Pimpão por natureza, não era de meias tintas. A presidência soberana era o palco onde transformava as suas impressões em expressões. Mas para quem queria perpetuar-se no poder, a vida trocou-lhe as voltas cedo demais. Ninguém é dono do seu amanhã, por mais poderoso e carismático que se seja. Como homem político, tinha tanto de anjo como de demónio. Amado por muitos, era odiado por outros tantos. O seu funeral foi pretexto para um coro de altos responsáveis estar presente em Caracas, porque a realpolitik assim o exige. Onde há petrodólares, enormes são os interesses a eles associados porque a maior reserva de ouro negro do mundo está na Venezuela, cuja economia gira basicamente à volta daquele produto. Que futuro, após Chávez? Segue-se, numa espécie de sucessão dinástica, Nicolás Maduro que não perdeu tempo a cavalgar a onda de emoção, para assim capitalizar votos a seu favor. O tempo dirá se está suficientemente maduro para continuar o chávismo sem Chávez.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


Bagatelas da quinzena    

A dança dos Antónios (Seguro e Costa) marcou a agenda política do PS dos últimos dias. Ao surfar a onda contestatária a Seguro, António Costa rapidamente deu à praia, sem honra nem glória. No Largo do Rato, fez entrada de leão, mas saída de sendeiro, um pouco com o rabo no meio das pernas. Fez lembrar o valente do agarrem-me ou dou cabo dele. E a ideia que salta para a opinião pública é que tudo não passou de disparos de pólvora seca. Enfim, tanto barulho por um naco de nada, pelo menos para já. Porque, ao que consta, alguns dos mais obstinados socráticos ficaram desapontados com o comportamento do alcaide de Lisboa, pois o que desejavam era ver Seguro fora dos próximos combates eleitorais. Saiu-lhes o tiro pela culatra, com se costuma dizer. Será que, ao menos, conseguem reabilitar o passado de José Sócrates para o apresentarem como candidato do PS à Presidência da República? Muito dificilmente, embora a memória dos eleitores seja curta.
                PSD e CDS fizeram aprovar no Parlamento uma resolução que recomenda ao Governo a promoção de um programa televisivo sobre Agricultura e Mar. A ideia até nem é descabida de todo, pelo contrário. No entanto, a oposição, em coro, levantou-se para dizer que era mais um acto de ingerência na programação da RTP. Enfim, para certa gente, sugestões são ingerências! É o bota-abaixo pelo bota-abaixo! Aliás, as catilinárias são a prática constante de uma certa oposição que não tem mais nada para oferecer ao país. Muitos ainda hoje se lembram do TV Rural de Sousa Veloso, que encantava toda a gente, mesmo aqueles a quem a agricultura nada dizia. Com muita juventude, de momento, a apostar na terra como meio de superar a crise de emprego, também é a altura do serviço público de televisão mostrar o que de melhor se faz na agricultura e nas pescas. Pedagogicamente, até pode servir de leitmotiv para novas oportunidades.
Na discussão de ninharias, é fértil a oposição. De tiros nos pés, o Governo. A nomeação de Franquelim Alves, para secretário de Estado, é mais um exemplo. E aqui, todos estiveram mal. Quem o escolheu, porque ao nariz dos portugueses, tudo o que cheire a BPN fede. Depois, porque as oposições transformaram o episódio no saco do boxe político, como se mais nada houvesse no Parlamento para tratar. Então a bicefalia do BE gastou os tiros todos na caça ao homem, com destaque para as catilinárias constantes da Catarina. Mas o pior ainda estava para vir. Alguém, dentro do Governo, querendo ser mais papista do que o papa, resolveu emendar no curriculum do secretário de Estado a referência à Sociedade Lusa de Negócios, onde estivera como administrador, fazendo do povo um bando de parvos. Como foi possível esta trapalhada! Até um aprendiz de sapateiro remendava melhor.
                A resignação de Sua Santidade Bento XVI apanhou de surpresa toda a cristandade, é um facto. Mas esta renúncia, toda ela, está carregada de pedagogia. Certamente, foi uma atitude bem meditada, muito racional, mas dolorosa para o Papa. A tradição, desde há séculos, é o Sumo Pontífice resistir até ao dobrar do tempo, até ao choro dos sinos. Mas este acto eloquente carrega muita doutrina: desapego das coisas e dos lugares; humildade e humanidade. Há um tempo para tudo. Foi muito digno saber sair, percebendo a fragilidade da vida, para não forçar os limites da existência.

Bagatelas da quinzena    

As águas socialistas andam muito agitadas. Há tempos, que vozes desgarradas, de dentro do PS, vinham dando alfinetadas avulsas na liderança de Seguro. Ultimamente, de forma mais clara e organizada, os apaniguados de Sócrates vieram a terreiro mostrar que era preciso apear o líder. No dizer dos contestatários, tem de haver uma oposição vigorosa de modo a ser criada uma alternativa à actual maioria. Mas este ninho de víboras esquece-se que ainda há pouco tempo esteve no governo da nação e merece quarentena pelo estado em que deixaram o país. Os partidos políticos comportam-se como um saco de gatos, que de garras afiadas, espreitam a melhor altura para definir o território. António Costa é o homem apontado para a refrega. Depois de questionar, inicialmente, “qual é a pressa” em convocar um congresso, José Seguro deu um murro na mesa e pede eleições directas o mais rapidamente possível. É um desafio claro a António Costa. Para quem tanto pedia eleições, aí as tem e intestinas.
                A privatização da RTP, tal como foi arquitectada por Relvas e seus acólitos, foi um grande disparate para o PSD. Com avanços, recuos e sucessivas mudanças de trajectória, o Governo de Passos Coelho dissipou energias inúteis e criou anticorpos desnecessários na opinião pública. A RTP é uma casa de vespas-douradas que devia ter sido tratada com muito cuidado. Mas de trapalhada em trapalhada, Relvas ziguezagueou demais e deu tudo em águas de bacalhau. A reforma ficará adiada para as calendas gregas com o Zé a pagar a farra. Fala-se em reformulação da empresa. Será a embrulhada que se segue? Sem fazer alarido, o vencedor desta guerrinha de alecrim e manjerona é o parceiro de coligação, Paulo Portas, que muito inteligentemente soube levar a água ao seu moinho.
                Corre nas redes sociais a informação de que a Câmara Municipal de Loures é gerida como se de uma empresa familiar se tratasse. Toda a gente sabe que uns arranjinhos sempre se fizeram. Que os concursos públicos são quase sempre feitos à medida de alguém. Ainda muito recentemente, o Secretário de Estado da Administração Local pediu a demissão, ao ser acusado pelo Ministério Público de prevaricação, enquanto presidente de câmara, “devido a um concurso para a chefia de uma divisão da autarquia”, onde eventualmente teria favorecido um primo. Comparado com o caso de Loures, isto não é nada. Com efeito, o referido presidente, que vai no terceiro mandato, já empregou a mulher, a filha, dois cunhados e a nora. A namorada do filho é a última aquisição, ao ser nomeada adjunta do gabinete da presidência. Para que conste, dos restantes, nenhum desempenha a tarefa menor de calceteiro, jardineiro ou adjunto no tratamento das águas residuais de Loures.
                Aquando da manifestação dos professores, o secretário-geral da CGTP, na hora de botar faladura, foi à tarde, referiu-se ao etíope da troika, como o “escurinho”. Da esquerda à direita, não faltou quem desancasse no homem, acusando-o de racismo e até xenofobia. Enfim, o país anda tão cinzento, nervoso, sisudo, triste, taciturno que não se permite uma piadazita, por mais inócua que seja. A gargalhada até faz bem à saúde, está provado e ainda não paga imposto, por enquanto! Por isso, será que Tó Zé Inseguro vai cair do poleiro atropelado pelo “escurinho” da Câmara de Lisboa?

Bagatelas da quinzena    
 O Secretário de Estado da Saúde referiu que os portugueses devem contribuir mais para a sustentabilidade do SNS, prevenindo as doenças e assim recorrerem menos aos serviços. Foram palavras sensatas. No entanto, não faltou quem viesse apoucar tais afirmações, com críticas vindas até de pessoas respeitáveis e responsáveis pela área da saúde, acusando-o de “insensibilidade social”. Reza o ditado popular que mais vale prevenir do que remediar. E se as pessoas tivessem mais um pouco de precaução, cultivando modos de vida mais saudável, talvez as urgências dos hospitais e os postos médicos estivessem mais desertos. Reduzir o potencial de algumas doenças está muito nas mãos de cada um. Se a alimentação fosse mais equilibrada, ao nível dos açúcares, das gorduras, do álcool, do tabaco, para não falar da guerra civil diária que se vive nas estradas, nas drogas consumidas a esmo e na forma descuidada como se encaram os trabalhos de risco, muito poderia ser poupado em saúde pública. Pela boca morre o peixe. E porque os números falam por si, basta referir que só os problemas ligados ao tabaco e ao álcool representam para o Estado um encargo conjunto de 700 milhões de euros. É muito dinheiro desbaratado irresponsavelmente!
                Para o Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada, os espectáculos eróticos são de cariz artístico e portanto beneficiam da taxa reduzida do IVA. Os senhores juízes é que percebem de leis, mas ao que consta, os factos em causa foram bem diferentes, como refere a Administração Fiscal, pois o que esteve em causa foi um “espectáculo pornográfico e obsceno” “com exposição física”. Quando manifestações desportivas são agravadas com a taxa máxima, como se compreende que espectáculos de cariz obsceno possam estar taxados à taxa mínima? Com o IVA da restauração à taxa de 23%, resta à populaça gozar um dos três inimigos da alma a baixo imposto.
                Quando se assiste, por parte do Governo, com o braço armado do Orçamento de Estado para 2013, a uma cruzada impenitente aos aposentados e reformados deste país, que tiveram uma vida de trabalho e descontos de mais de quarenta anos, mas com muitos deles a receberem reformas de lástima, eis que aparece alguém, vindo da área política, a reformar-se aos 48 anos de idade. Com apenas 12 anos de trabalho, em 3 mandatos autárquicos nas listas da CDU, vai usufruir um prémio mensal de 1859,67 euros. O PCP, em tímido comunicado, fez saber que se trata de uma “decisão pessoal”. Mas para quem tanto usa e abusa do nome dos trabalhadores e reformados na luta partidária, é muito curto.
                A Assembleia da República dá imunidade aos deputados em quase tudo, menos na alcoólica. Foi o que aconteceu com uma deputada do PS que resolveu festejar os 37 aninhos de vida com uma piela. Até aqui nada de especial. Não há mal algum em beber uns canecos para aliviar as agruras parlamentares. O pior foi a senhora deputada ter conduzido o seu bólide em tais condições. Em operação stop, acusou uma taxa de álcool de 2,41 gramas por litro de sangue, o dobro do que é permitido por lei. Pois é! O álcool ainda não distingue os mordomos da nação do Zé Ninguém do tasco. 

domingo, 16 de dezembro de 2012


Bagatelas da quinzena   
 
 Que os dirigentes políticos prometem uma coisa quando estão na oposição e fazem o seu contrário no governo é algo a que os portugueses já estão habituados. Daí o divórcio entre eleitores e eleitos ser cada vez maior e a credibilidade da classe política andar pelas ruas da amargura. Aliás, o revezamento dos partidos não se deve tanto ao mérito das propostas, das soluções que apresentam enquanto oposição, mas às asneiras que o poder vai fazendo, que acabam por os tombar do poleiro. E são tantas as trapalhadas do governo de Passos Coelho, que o povo parece que está mortinho por o ver cair de maduro como maçã serôdia. Uma das últimas trapalhadas foi dizer que as facilidades dadas aos gregos também seriam aplicadas aos portugueses. Mas, qual não é o espanto geral, quando passados dias, o ministro Gaspar vem dizer o contrário, porém a culpa foi dos portugueses, porque fizeram uma “inqualificável confusão”. No mínimo é fazer dos portugueses uns atrasados mentais, porque não conseguem acompanhar, mesmo au ralenti, as sequências narrativas do responsável pela pasta das finanças. Enfim, um bando de patos bravos é o que os portugueses são!
                Que a Justiça é lenta, que existe uma para pobres e outra para ricos, toda a gente o apregoa. E como se tanto não bastasse, a receita do bolo fica completa com a violação constante do segredo de justiça. Quantas vezes, a polícia ainda não fez as buscas domiciliárias e já tudo foi bufado para os jornais ou até para as televisões que, de câmaras apontadas, estão prontas para o que der e vier. Depois fazem-se grandes parangonas nos jornais e abrem-se noticiários televisivos com suspeitas generalizadas, como se o visado ou os visados já estivessem condenados. Foi o que recentemente aconteceu com o antigo ministro das Finanças Medina Carreira. Parece que tudo não passou de um equívoco grave, mas que colocou o visado na mó de baixo da opinião pública. Quando estas situações acontecem, o Ministério Público e os Juízes prestam um péssimo serviço ao país. No Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, já o Corregedor e o Procurador de então aparecem na galeria de personagens onde são escarnecidos severamente! Mas que sina a nossa!
                Foi noticiado que uma nova classe de dirigentes inter-municipal vai ser criada, cerca de uma centena, que vão receber remuneração principesca. Afinal de contas, o Estado não faz a dieta de que tanto fala e alguma apetitosa gordurazinha vai sobrando para alimentar estes boys. Fala-se que os lugares destinam-se a ex-autarcas impedidos de se candidatarem a novo mandato. Se assim for, parafraseando o sapateiro de Braga, ou há moralidade ou comem todos.
                Nem tudo é negativo. A actual administração do Conselho de Administração do Parlamento, presidido por Couto dos Santos, vai renegociar a faustosa frota automóvel que herdou de José Lello, para pôr alguma decência na situação. Ao que consta, os carros topo de gama serão substituídos por outros mais modestos. É um gesto que cai bem, porém poder-se-ia ter ido mais longe. Por que não, o Governo fazer o mesmo? Também, por que carga de água, os quatro vice-presidentes da Assembleia da República hão de ter direito a carros topo de gama e a motorista? Simples curiosidade: que musiqueta ouvem enquanto andam de cu tremido pelas calçadas de Lisboa? Feliz Natal.