O Governo não pode ficar indiferente ao milhão de
portugueses que saiu à rua no passado dia 15 de Setembro. Cerca de 87% dos
portugueses dizem-se desiludidos com a democracia! A nossa sociedade está
doente. Será que todo este paradigma de vida está esgotado? Cortes e mais
cortes, sempre nos mesmos, é uma fatalidade da qual não se pode sair? Pode ser
um chavão, mas a austeridade pela austeridade não leva a lado nenhum. Porque
não se faz uma reformulação política profunda na organização do Estado? Menos
deputados, menos mordomias, diminuição nas subvenções vitalícias dos políticos,
algumas acumuladas com outros proveitos, rendas excessivas, reforma
administrativa, parcerias público-privadas e em tudo aquilo que, aos olhos dos
cidadãos, são benesses de uma casta de gente que vive parasitariamente
pendurada no orçamento do Estado. Não há caminhos mais mitigados que nos levem
a dias melhores? O povo proclamou que há mais vida para além da crise, da
troika, do défice. Depois dos números, há pessoas e dramas de vida gritantes.
Gente essencialmente da classe média, classe que se forjou e se revigorou após
Abril de 1974, que nunca tinha descido às ruas fê-lo, desta vez, mostrando o
descontentamento generalizado com uma classe política que tem assentado as
nádegas da governação na desfaçatez da mentira. Há uma grande fractura com esta
geração de políticos que só poderá ser superada com novos partidos ou com gente
que, nos existentes, faça um corte radical com o modus operandi dos actuais. Também não é com o radicalismo, a
demagogia que as esquerdas ancilosadas apregoam que se vai a lado algum. No meio estará a virtude, mas não com o cinismo deste centrão
clientelar.
Na recente crise,
Passos tirou da cartola, não um coelho, mas uma TSU que toda a gente viu logo
que era albina e autista, menos ele. A coligação governativa foi igualzinha às
imbecis estrelas da Casa dos Segredos. Tudo foi idiota, ligeiro, parvo. Afinal
de contas, o que se passou no Conselho de Ministros não ficou dentro das quatro
paredes. Paulo Portas tinha um segredo mortal para ser escancarado no
confessionário nacional do partido: era contra a TSU, mas aceitara-a em nome
dos superiores interesses do Estado. Foi uma picada viperina que envenenou toda
a coligação. Cai-não-cai e com muitas jogadas de bastidores, o nó de víboras
desatou-se. Depois, saltaram do carrossel do circo alguns bonifrates de serviço
com o antídoto para a salvação nacional! Até quando?
Quem viu o programa “Olhos nos Olhos” da TVI 24, onde esteve o
Prof. Paulo Morais, vice-presidente da ONG, “Transparência e Integridade”,
ficou certamente com os olhos em bico. As afirmações feitas arrasam a classe
política em geral e a Justiça em particular. “Assembleia da República é centro
de corrupção em Portugal”. “ Há promiscuidade entre a legislação que é feita e
os deputados”.“Há corrupção, não há, é Justiça”. “Porque se fizeram
auto-estradas que estão sem utilidade alguma?”. “Os dinheiros públicos
estiveram a saque e serviram para enriquecer muita gente”. “Ex-ministros das
Obras Públicas estão agora nas empresas de obras públicas”. “Muitos
ex-governantes estão hoje nas PPP”. Pérolas assertivas como estas, entre
outras, não deixarão muitas orelhas a arder, alguns responsáveis a corar de
vergonha? Talvez não! “A vida política portuguesa, na sua maioria, está uma
indecência”. Perdeu a inocência…