quinta-feira, 27 de setembro de 2012



Bagatelas da quinzena    

                 O Governo não pode ficar indiferente ao milhão de portugueses que saiu à rua no passado dia 15 de Setembro. Cerca de 87% dos portugueses dizem-se desiludidos com a democracia! A nossa sociedade está doente. Será que todo este paradigma de vida está esgotado? Cortes e mais cortes, sempre nos mesmos, é uma fatalidade da qual não se pode sair? Pode ser um chavão, mas a austeridade pela austeridade não leva a lado nenhum. Porque não se faz uma reformulação política profunda na organização do Estado? Menos deputados, menos mordomias, diminuição nas subvenções vitalícias dos políticos, algumas acumuladas com outros proveitos, rendas excessivas, reforma administrativa, parcerias público-privadas e em tudo aquilo que, aos olhos dos cidadãos, são benesses de uma casta de gente que vive parasitariamente pendurada no orçamento do Estado. Não há caminhos mais mitigados que nos levem a dias melhores? O povo proclamou que há mais vida para além da crise, da troika, do défice. Depois dos números, há pessoas e dramas de vida gritantes. Gente essencialmente da classe média, classe que se forjou e se revigorou após Abril de 1974, que nunca tinha descido às ruas fê-lo, desta vez, mostrando o descontentamento generalizado com uma classe política que tem assentado as nádegas da governação na desfaçatez da mentira. Há uma grande fractura com esta geração de políticos que só poderá ser superada com novos partidos ou com gente que, nos existentes, faça um corte radical com o modus operandi dos actuais. Também não é com o radicalismo, a demagogia que as esquerdas ancilosadas apregoam que se vai a lado algum. No meio estará a virtude, mas não com o cinismo deste centrão clientelar.
                Na recente crise, Passos tirou da cartola, não um coelho, mas uma TSU que toda a gente viu logo que era albina e autista, menos ele. A coligação governativa foi igualzinha às imbecis estrelas da Casa dos Segredos. Tudo foi idiota, ligeiro, parvo. Afinal de contas, o que se passou no Conselho de Ministros não ficou dentro das quatro paredes. Paulo Portas tinha um segredo mortal para ser escancarado no confessionário nacional do partido: era contra a TSU, mas aceitara-a em nome dos superiores interesses do Estado. Foi uma picada viperina que envenenou toda a coligação. Cai-não-cai e com muitas jogadas de bastidores, o nó de víboras desatou-se. Depois, saltaram do carrossel do circo alguns bonifrates de serviço com o antídoto para a salvação nacional! Até quando?
                Quem viu o programa “Olhos nos Olhos” da TVI 24, onde esteve o Prof. Paulo Morais, vice-presidente da ONG, “Transparência e Integridade”, ficou certamente com os olhos em bico. As afirmações feitas arrasam a classe política em geral e a Justiça em particular. “Assembleia da República é centro de corrupção em Portugal”. “ Há promiscuidade entre a legislação que é feita e os deputados”.“Há corrupção, não há, é Justiça”. “Porque se fizeram auto-estradas que estão sem utilidade alguma?”. “Os dinheiros públicos estiveram a saque e serviram para enriquecer muita gente”. “Ex-ministros das Obras Públicas estão agora nas empresas de obras públicas”. “Muitos ex-governantes estão hoje nas PPP”. Pérolas assertivas como estas, entre outras, não deixarão muitas orelhas a arder, alguns responsáveis a corar de vergonha? Talvez não! “A vida política portuguesa, na sua maioria, está uma indecência”. Perdeu a inocência…

domingo, 16 de setembro de 2012



Bagatelas da quinzena    

                1 A Comissão Europeia deu instruções aos Estados-membros no sentido de valorizarem as aprendizagens informais dos cidadãos, através do reconhecimento de competências, de modo a que as mais diversas experiências profissionais ou de vida possam ser reconhecidas num diploma universitário. Aponta-se mesmo o ano de 2015 como o momento de já estarem a ser reconhecidas com “canudo” universitário as aprendizagens obtidas fora do circuito tradicional académico. Afinal de contas, depois do humor português ter sido engordado com as mais divertidas piadas, a Universidade Lusófona e Miguel Relvas mais não foram do que pioneiríssimos a gerar títulos de plástico. Como algumas Universidades estão à míngua de euros, bem pode ser que com esta medida se venha a remediar a sua liquidez. Sabendo-se da vertigem nacional pela doutorice… vai ser um vê se te avias...
                2 No âmbito de Guimarães – Capital Europeia da Cultura 2012, A Guarda Nacional Republicana participou no teatro de rua “O Funeral de Portugal”. Na peça, os militares escoltaram um caixão com a forma do mapa de Portugal continental, simbolizando o enterro do país. É no mínimo irónico que, desde sempre, a gente de Guimarães, que tanto reivindica para a cidade o berço da nacionalidade, tenha agora tolerado nas suas ruas uma palhaçada deste calibre. Toda a gente sabe que tudo aquilo não passou dum simulacro da realidade. Mas há limites, mesmo para a brincadeira. O país está doente, mas já superou crises bem piores do que a actual, como atestam os seus quase nove séculos de história. Não é a patetice ideológica de meia dúzia de pretensos iluminados vanguardistas que matará o orgulho de séculos de um povo inteiro. Mas terem carpido o país com a GNR fardada, equipada, armada a preceito foi enlamear todos os seus profissionais. A GNR não pode de modo algum participar em palhaçadas deste género nem cair ingenuamente em ridículos como este. A quem também se fez o “funeral” foi ao Comandante Territorial de Braga da GNR, que foi afastado do cargo.
                3 Com o anúncio das novas medidas de austeridade, Passos Coelho conseguiu a inédita proeza de colocar todo o país e até alguns indefectíveis do partido a resmungar contra si. O país passa momentos conturbados e a grande maioria até caiu na realidade de que é preciso fazer austeridade, mas a ideia generalizada é que a Troika está a fazer de Portugal um laboratório de experiências nunca testadas em parte alguma. Por outro lado, os Socialistas, tão ou mais responsáveis quanto estes, pois foram eles quem convidaram a Troika a pôr ordem na casa, parecem mais interessados em cavalgar a onda das contestações, para capitalizar momentâneas simpatias, sabendo que se lá estivessem a receita era a mesma, do que apresentar alternativas credíveis. O Primeiro-Ministro faz lembrar aquele inglês cujo cavalo trotava muito bem, era muito pacífico, obediente, respeitador, mas que tinha um pequeno defeito: comia demasiado. Vai daí, começa todos os dias a cortar na ração para o pôr na linha. De início as coisas até nem estavam a correr mal. O cavalo obedecia, até começou a ficar mais elegante. No entanto, deixou de ser tão pacífico, tão obediente, tão respeitador. E quando o cavalo estava a chegar ao ponto ideal morreu... Com os portugueses, bem pode acontecer o mesmo.