quinta-feira, 30 de agosto de 2012



FLASHBACK

Bagatelas da quinzena    

                1 Com o recreio de Agosto terminado e a euforia do calor e das praias a cheirar a passado, o país regressa ao quotidiano de todas as incertezas, da troika, de mais cortes sociais que se adivinham, da crise. Mas para deputados e governantes a crise é uma miragem, porque até viram aumentados os seus salários em cerca de 81 euros por mês. E também professores do ensino superior técnico e polícias são apanhados neste bónus, com uma variação de aumento acima dos 2%, segundo informação do Ministério das Finanças. Parafraseando aquele ex-primeiro-ministro, que andou aos papéis com os números do PIB, dir-se-á: é a vida…só que madrasta para a maioria.
                2 O negócio dos submarinos voltou a emergir neste mar azul de verão. O Ministério Público, depois de ter denunciado que documentos do processo de compra estavam desaparecidos, coisa que fez estranhar os vários ministros que ocuparam a pasta, vem agora pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal reafirmar que “novas diligências serão realizadas, designadamente solicitando a colaboração do anterior e actual Ministro da Defesa”. Quando pelo mesmo negócio, na Alemanha, já houve julgamento e condenações, nós ainda andamos aos papéis, designadamente o tal “dossier” histórico que o MP diz não saber onde está. Como ainda ninguém perguntou a Paulo Portas por ele, pode bem ser que ele saiba onde está! Com tal eficiência, esta Justiça não vai a lado nenhum. É no mínimo uma vergonha, que passados tantos anos, o negócio dos submarinos continue a navegar em águas turvas e profundas!
                3 Ao que parece, até que enfim que o Governo se prepara para cortar nas tais “gorduras” do Estado, designadamente nas fundações e observatórios que pululam pelo país todo como cogumelos em noite de chuva miudinha! Como sempre, há excelência nuns casos e oportunismo noutros. Bem pode, portanto, o Governo poupar uns milhões de euros naqueles que são autênticos embustes, que só existem para parasitar os contribuintes. São uma mina a céu-aberto, que nasceram para encher o “ego” do patrono e servir os seus acólitos mais dedicados.
                4 Diz o Dr. Mário Soares que concessionar a RTP “é uma pouca-vergonha”. Realmente, tem toda a razão, tanto mais que os benefícios que daí advém estão muito mal explicados e a redução de custos, muito duvidosa. Trapalhadas já há demais, para que é que o Governo se vai meter em mais uma? A privatização ou concessão da RTP vai criar problemas sociais, políticos, jurídicos e constitucionais. Sociais, porque é preciso explicar muito bem ao povo, porque é que se continua a pagar a taxa do audiovisual e ainda é preciso o erário público despender mais 50 milhões de euros cada ano. Políticos, porque todas as oposições estão contra, com o PS até a afirmar que voltará tudo à primeira forma, no dia em que for governo. Jurídicos, como balizarem tudo que se entende por serviço público gerido por privados. Por fim, constitucionais, porque muitos doutos na matéria apontam a medida como inconstitucional. Com tanto trabalho mais importante a fazer porque é que o Governo gasta energias, qual Dom Quixote, a derrubar moinhos de vento?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Bagatelas da quinzena    
                1 Com o colorido das feiras, festas e folias a animar o povo, com os políticos e comentadores de bancada entretidos a banhos no Algarve, as maleitas da crise até parecem aliviadas. E bem necessário é. Nos últimos tempos, a verborreia de alguns tem sido inflamada demais e o responsório demasiado frequente. A insensatez de muitos tem encrespado o panorama político. Em vez de colocarem água na fervura, gente principal, das mais diversas áreas e estatutos, tem perdido as estribeiras atirando achas para a fogueira, de tal forma que algumas delas revelam mais ódio de estimação pessoal, de infantil melindre, do que saudável crítica construtiva. Como se não bastasse a algazarra dos sindicatos, que fazem o seu papel, e o ruído repetido, até à náusea, em alguma comunicação social, estes senhores bem podiam ver claramente que o povoléu já não tem pachorra para assistir a tanto foguetório de palavras.
                2 Como de costume, aí temos o drama dos incêndios a enlutar o Portugal mais profundo. Parece ser este o fado de todos os verões. O calor, a seca extrema, a negligência generalizada, no que à limpeza das matas diz respeito, o descuido, o desrespeito pelo património colectivo e as motivações fúteis de alguns desequilibrados mentais formam um caldo explosivo difícil de dominar. Milhares e milhares de hectares de floresta são delapidados impunemente todos os anos, ficando o país cada vez mais pobre. Para se ter uma noção da tragédia, refira-se que a área ardida triplicou nos últimos dez anos. Em vez de se prevenir como seria mais razoável, passa-se o verão a remediar o mal feito. Mas que sina!
                3 ”Que se lixem as eleições”, disse Passos Coelho aos deputados do PSD. A utilização do  plebeísmo foi o bastante para agitar as águas da política. As oposições fartaram-se de “malhar” no homem, porque aquilo não é linguagem adequada para um governante. Até alguns correligionários seus sentiram-se escandalizados, mas outros aplaudiram de pé a bonomia do Primeiro-ministro. Intencional ou não, a expressão usada foi eficaz na sua simplicidade. Aliás, de há muito que Passos Coelho vem usando expressões popularuchas, mas de forte efeito mediático. Bem pode o PM estar-se marimbando para as eleições, mas quem vive mesmo lixado até ao tutano são todos aqueles que diariamente carregam no lombo as medidas de austeridade do Governo e da Troika.
                4 Vários anos decorridos, muito dinheiro gasto e muita tinta desperdiçada, o processo Freeport chega ao fim, com o Ministério Público a pedir a absolvição dos arguidos. É no mínimo intrigante ter-se perdido tanto tempo, para finalmente dar tudo em águas de bacalhau. No entanto, a montanha pariu um ratinho. A mando do juiz do processo foi extraída certidão das declarações de algumas testemunhas para que o Ministério Público abra um processo de averiguações ao antigo Ministro do Ambiente, José Sócrates. Estranha-se que face a tantas insinuações no passado, o Ministério Público nunca tenha tido a oportunidade de chamar o ex-governante a depor. A funcionar desta maneira, cada vez mais o cidadão comum acredita que há uma justiça para os poderosos e outra para os fracos. E quando assim é, algo está podre no reino da Dinamarca.