sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Bagatelas da quinzena    

 São decorrentes e com muita justeza as críticas generalizadas à Justiça, cuja balança tem dois pesos e duas medidas. Enquanto eminentes tubarões da política e dos grandes negócios escapam às malhas da lei, como enguias lustrosas em noite de pescaria, o peixe miúdo raramente escapa à teia dos tribunais, mesmo quando em causa estão questões que não valem um prato de lentilhas. Não é o caso presente. No entanto, o mesmo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça que mandou destruir as escutas comprometedoras feitas a José Sócrates é o mesmíssimo juiz que agora validou as escutas feitas a Passos Coelho. Sócrates era então Primeiro-ministro, Passos Coelho é hoje o Chefe do Governo. Não será isto um exemplo de dois pesos e duas medidas? Se não é, expliquem!
                Sem entrar na guerra de números, a greve geral e as manifestações foram, no dizer dos seus responsáveis, um sucesso. Talvez tenham sido, a avaliar pelas imagens transmitidas pela televisão. No entanto, as cenas de pancadaria que se seguiram em frente à Assembleia da República acabariam por abafar o êxito da jornada. Para a história ficou a carga policial sobre os manifestantes, os petardos e as pedras da calçada que serviram de armas de arremesso. Segundo a polícia, infiltrados na manifestação, havia grupos radicais de anarquistas, elementos das claques de futebol, alguns estivadores, energúmenos e desordeiros de última hora. Toda esta gentalha veio estragar o legítimo e constitucional direito à indignação e à luta pacífica. Por isso, a carga policial foi a adequada e como diz o povo, foram poucas e só se perderam as que caíram no chão.
                O Censos revelou que o país tem 10 562 178 habitantes, metade da sua gente vive na faixa litoral. O interior despovoou-se e envelheceu, envelhecimento que tem vindo a acentuar-se de forma muito significativa. E se por um lado é positivo a esperança de vida ter subido, vive-se melhor e até mais tarde, por outro, deve fazer reflectir seriamente os responsáveis políticos. Os nascimentos decrescem, os novos emigram, o desemprego galopa, os idosos aumentam, o país definha. Portugal vive adiado! O “jardim à beira-mar plantado” já virou lar de terceira idade. Que futuro?
                Jerónimo de Sousa, secretário-geral dos comunistas, em entrevista recente ao Expresso, afirmou que “o socialismo que pretendemos não tem modelo”. Longe vai o tempo, portanto, em que a URSS era paradigma a seguir: um Estado totalitário, sem classes sociais, de partido único, baseado na colectivização, no controle dos meios de produção, na polícia do KGB e nos Gulag, dos presos políticos, onde milhares de cidadãos penaram até à morte. O PCP também não aponta as suas referências ideológicas para as famigeradas sociedades socialistas actuais: China, Cuba, Coreia do Norte, etc. Por outro lado, o PCP não se dá bem com a democracia burguesa, parlamentar, porque convive melhor com as acções de rua como meio de levar à queda dos governos democraticamente eleitos. Para tal, serve-se da CGTP, correia de transmissão do partido, como cavalo de Tróia dessa luta. Por fim, refere que “a política patriótica e de esquerda” que desejam “é uma solução em construção”. Com quem? Com o Bloco de Esquerda? Utopia revolucionária, certamente, à espera dos “amanhãs que cantam”.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012



Bagatelas da quinzena  
  
 Umas excelências maçadoras da nossa praça, quais caga-lumes em noite quente de verão, estão sempre disponíveis para a fosforescência verbal, para a verborreia narrativa quando algum jornal ou microfone lhes dá oportunidade de antena. Como se não bastassem já tantos treinadores de bancada a dar palpites de imbecilidade, ainda vêm estes senhores engrossar o dichote político em que andamos afogados. Recentemente, foi a vez do presidente do BPI, à pergunta se “o país aguenta mais austeridade?”, responder com um “ai aguenta, aguenta!” Se cada português fosse accionista de um banco, certamente aguentaria tudo e mais alguma coisa, a ver pelos lucros fabulosos que os bancos vêm tendo, apesar da conjuntura difícil que se vive. Portanto, é caso para perguntar ao Dr. Ulrich: crise, qual crise? É bem sabido que pimenta no rabo dos outros é refresco para o BPI…
                A afirmação de D. José Policarpo de que em democracia os problemas não se resolvem com manifestações ou a de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, de que os portugueses não podem comer bifes todos os dias, ambas revelam sensatez. Os tempos são difíceis, não só para nós, mas para todos os europeus que criaram um padrão de vida acima dos recursos disponíveis. Quem não quiser ver esta realidade, está a ser avestruz com a cabeça metida na areia. Por isso, quando alguém não embarca na narrativa politicamente correcta, quando o discurso é sensato e se rema contra a maré do momento, caiem-lhe logo em cima um coro de críticas histéricas e sem sentido. Depois, as redes sociais fazem eco deformado de tudo e exponenciam até ao enjoo a palermice colectiva. O que se valoriza é a espuma, o superficial, o contingente, em detrimento daquilo que o país precisa, que é bom senso, para sair dos dias negros em que está mergulhado.
                Para sair da austeridade bem precisávamos de partidos à medida do momento. Mas o que se verifica é que o quintal de cada um é mais importante do que o país. Temos a lição do que foi a primeira república e das lutas partidárias de então que deram no que deram. Os tempos são outros, evidentemente, mas seria bom aprendermos com a História. Até com os partidos políticos um país precisa de ter sorte! Pela aragem, parece que não tivemos. O PCP vive agarrado à vaca sagrada da constituição, à espera de que o Alentejo ainda lhe volte às mãos; o BE vocifera contra a troika, pedindo insistentemente que se rasguem os acordos com os credores; o PS assobia para o lado como se nada fosse com eles e José Seguro não se compromete com nada à espera que o poder lhe caia no colo. PSD, CDS e Governo, acossados na rua por todos os lados, navegam à vista dos acontecimentos. Com estes sindicatos partidários cuidando zelosamente das suas quintinhas, com a CGTP transformada em carneirada de rua, o país não tem estadistas nem dirigentes com visão de futuro. Por isso, avante camarada, avante, até ao abismo.
                Angela Merkel visitou Portugal e uma minoria instrumentalizada vê na senhora a fonte de todos os nossos males. Sublima-se em bode expiatório todas as fraquezas. Mas nesta Europa a várias velocidades, com alguns países até em roda livre, a chanceler alemã talvez seja o travão necessário para manter viável no carril o comboio económico do Velho Continente.