São decorrentes e com muita justeza as críticas generalizadas à Justiça, cuja balança tem
dois pesos e duas medidas. Enquanto eminentes tubarões da política e dos grandes
negócios escapam às malhas da lei, como enguias lustrosas em noite de pescaria,
o peixe miúdo raramente escapa à teia dos tribunais, mesmo quando em causa
estão questões que não valem um prato de lentilhas. Não é o caso presente. No
entanto, o mesmo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça que mandou destruir
as escutas comprometedoras feitas a José Sócrates é o mesmíssimo juiz que agora
validou as escutas feitas a Passos Coelho. Sócrates era então
Primeiro-ministro, Passos Coelho é hoje o Chefe do Governo. Não será isto um
exemplo de dois pesos e duas medidas? Se não é, expliquem!
Sem entrar na guerra de números, a greve
geral e as manifestações foram, no dizer dos seus responsáveis, um sucesso.
Talvez tenham sido, a avaliar pelas imagens transmitidas pela televisão. No
entanto, as cenas de pancadaria que se seguiram em frente à Assembleia da
República acabariam por abafar o êxito da jornada. Para a história ficou a
carga policial sobre os manifestantes, os petardos e as pedras da calçada que
serviram de armas de arremesso. Segundo a polícia, infiltrados na manifestação,
havia grupos radicais de anarquistas, elementos das claques de futebol, alguns
estivadores, energúmenos e desordeiros de última hora. Toda esta gentalha veio
estragar o legítimo e constitucional direito à indignação e à luta pacífica. Por
isso, a carga policial foi a adequada e como diz o povo, foram poucas e só se
perderam as que caíram no chão.
O Censos revelou que o
país tem 10 562 178 habitantes, metade da sua gente vive na faixa litoral. O
interior despovoou-se e envelheceu, envelhecimento que tem vindo a acentuar-se
de forma muito significativa. E se por um lado é positivo a esperança de vida ter
subido, vive-se melhor e até mais tarde, por outro, deve fazer reflectir
seriamente os responsáveis políticos. Os nascimentos decrescem, os novos
emigram, o desemprego galopa, os idosos aumentam, o país definha. Portugal vive
adiado! O “jardim à beira-mar plantado” já virou lar de terceira idade. Que
futuro?
Jerónimo de Sousa, secretário-geral
dos comunistas, em entrevista recente ao Expresso, afirmou que “o socialismo
que pretendemos não tem modelo”. Longe vai o tempo, portanto, em que a URSS era
paradigma a seguir: um Estado totalitário, sem classes sociais, de partido
único, baseado na colectivização, no controle dos meios de produção, na polícia
do KGB e nos Gulag, dos presos políticos, onde milhares de cidadãos penaram até
à morte. O PCP também não aponta as suas referências ideológicas para as famigeradas
sociedades socialistas actuais: China, Cuba, Coreia do Norte, etc. Por outro
lado, o PCP não se dá bem com a democracia burguesa, parlamentar, porque convive
melhor com as acções de rua como meio de levar à queda dos governos
democraticamente eleitos. Para tal, serve-se da CGTP, correia de transmissão do
partido, como cavalo de Tróia dessa luta. Por fim, refere que “a política
patriótica e de esquerda” que desejam “é uma solução em construção”. Com quem?
Com o Bloco de Esquerda? Utopia revolucionária, certamente, à espera dos
“amanhãs que cantam”.