Bagatelas da quinzena
Nos últimos tempos, as Forças Armadas têm
dado sinais generalizados de descontentamento. E já não são só as associações
militares e as larachas do Otelo e Vasco Lourenço a alvejarem as medidas do
governo, também altas e respeitáveis patentes, na reforma e na reserva, dos
diversos ramos, o fizeram recentemente. A crise chega a todos os lados e a
família militar não pode ficar de fora do esforço sacrificado que a toda gente
toca, claro está, sem colocar em causa a sua capacidade operacional. O Governo
fala em cortar 218 milhões de euros na sequência da reestruturação do sector. É
generalizada, na opinião pública, que as Forças Armadas precisam de ser redimensionadas
à realidade económica, social e política do país. Como se compreende que, dos cerca
de 38 mil homens das Forças Armadas, mais de metade sejam altas patentes
(almirantes e generais), oficiais e sargentos? Por cada vinte soldados, há
trinta graduados! É absurda tal macrocefalia! Acabar com a profissionalização,
voltando ao serviço militar obrigatório, é uma medida que se aplaude. Para além
de se poupar milhões de euros, a prestação do serviço militar obrigatório poderá
ser uma escola de valores para a juventude, que da vida pouco ou nada sabe. A Tropa
é uma boa escola.
O famigerado movimento dos reformados
indignados foi encabeçado pelo ex-banqueiro do BCP, Filipe Pinhal,
que, com pompa e circunstância, veio a público questionar o governo pelas cortadelas
de que têm sido vítimas. Com uma reforma choruda, de muitos milhares de euros,
presidir a um movimento destes revela, desde já, muito pouca pinha. Melhor lhe
fora ter ficado sossegadinho a um canto, não fazendo muitas ondas, assim não
teria passado pela vergonha que passou, quando um anónimo lhe atirou à cara, em
plena apresentação, que face às reformas de miséria que a maioria dos
aposentados recebe, ele é um privilegiado de ouro. A cereja em cima do bolo era
terem como patrono Jardim Gonçalves e a sua reforma de 174 mil euros! No
passado, falando das suas “pequeninas” reformas, já Cavaco Silva tinha ficado
muito desfocado na fotografia da opinião pública. Há gente que não há meio de aprender
com os erros dos outros, nem tem pingo de vergonha na cara. Irra!
Apesar de morto, a figura de Hugo Chávez enche
as ruas de Caracas e serve de mote às próximas eleições presidenciais. Figura
controversa, populista e narcisista, Chávez cultivou uma democracia muito “sui
generis”. Pimpão por natureza, não era de meias tintas. A presidência soberana
era o palco onde transformava as suas impressões em expressões. Mas para quem
queria perpetuar-se no poder, a vida trocou-lhe as voltas cedo demais. Ninguém
é dono do seu amanhã, por mais poderoso e carismático que se seja. Como homem
político, tinha tanto de anjo como de demónio. Amado por muitos, era odiado por
outros tantos. O seu funeral foi pretexto para um coro de altos responsáveis
estar presente em Caracas, porque a realpolitik
assim o exige. Onde há petrodólares,
enormes são os interesses a eles associados porque a maior reserva de ouro
negro do mundo está na Venezuela, cuja economia gira basicamente à volta daquele
produto. Que futuro, após Chávez? Segue-se, numa espécie de sucessão dinástica,
Nicolás Maduro que não perdeu tempo a cavalgar a onda de emoção, para assim
capitalizar votos a seu favor. O tempo dirá se está suficientemente maduro para
continuar o chávismo sem Chávez.