Vem sentar-te comigo, Sócrates, à beira da crise.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que o FMI está aí, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, como políticos sérios, que a crise
Não passa e fica, nada deixa e sempre regressa,
Vai parar sempre muito longe, às agências de rating,
Mais longe que o inferno.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena entendermo-nos.
Quer pactuemos, quer não pactuemos, está cá o FMI.
Mais vale aceitá-lo desgraçadamente
E sem desassossegos grandes.
Vociferemos, com ódios, com paixões que levantam a voz,
Com invejas que dão movimento demais aos olhos,
Sem cuidados, porque se os tivéssemos o FMI sempre correria,
E sempre nos apertaria o cinto.
Lutemos aguerridamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, fazer pactos e tratados e coligações,
Mas que mais vale estarmos de costas um para outro
Ouvindo correr o FMI e vendo-o.
Abramos a caça ao voto, pega tu neles e deixa-os
Germinar, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que caprichosamente não vemos nada,
Povo inocente da decadência.
Ao menos, se venceres as eleições, lembra-te de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem pactuamos,
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu fores a Belém ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim à - beira-crise,
Líder triste e com o FMI no regaço.
Nos Paços do Coelho
Brilhante!
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