1 Com
o colorido das feiras, festas e folias a animar o povo, com os políticos e
comentadores de bancada entretidos a banhos no Algarve, as maleitas da crise
até parecem aliviadas. E bem necessário é. Nos últimos tempos, a verborreia de
alguns tem sido inflamada demais e o responsório demasiado frequente. A
insensatez de muitos tem encrespado o panorama político. Em vez de colocarem
água na fervura, gente principal, das mais diversas áreas e estatutos, tem
perdido as estribeiras atirando achas para a fogueira, de tal forma que algumas
delas revelam mais ódio de estimação pessoal, de infantil melindre, do que
saudável crítica construtiva. Como se não bastasse a algazarra dos sindicatos,
que fazem o seu papel, e o ruído repetido, até à náusea, em alguma comunicação
social, estes senhores bem podiam ver claramente que o povoléu já não tem pachorra
para assistir a tanto foguetório de palavras.
2 Como de costume, aí temos o drama dos incêndios a enlutar o
Portugal mais profundo. Parece ser este o fado de todos os verões. O
calor, a seca extrema, a negligência generalizada, no
que à limpeza das matas diz respeito, o descuido, o desrespeito pelo património
colectivo e as motivações fúteis de alguns desequilibrados mentais formam um
caldo explosivo difícil de dominar. Milhares e milhares de hectares de
floresta são delapidados impunemente todos os anos, ficando o país cada vez
mais pobre. Para se ter uma noção da tragédia, refira-se que a área ardida
triplicou nos últimos dez anos. Em vez de se prevenir como seria mais razoável,
passa-se o verão a remediar o mal feito. Mas que sina!
3 ”Que
se lixem as eleições”, disse Passos Coelho aos deputados do PSD. A utilização
do plebeísmo foi o bastante para agitar
as águas da política. As oposições fartaram-se de “malhar” no homem, porque
aquilo não é linguagem adequada para um governante. Até alguns correligionários
seus sentiram-se escandalizados, mas outros aplaudiram de pé a bonomia do
Primeiro-ministro. Intencional ou não, a expressão usada foi eficaz na sua
simplicidade. Aliás, de há muito que Passos Coelho vem usando expressões
popularuchas, mas de forte efeito mediático. Bem pode o PM estar-se marimbando
para as eleições, mas quem vive mesmo lixado até ao tutano são todos aqueles
que diariamente carregam no lombo as medidas de austeridade do Governo e da
Troika.
4 Vários
anos decorridos, muito dinheiro gasto e muita tinta desperdiçada, o processo Freeport chega ao fim, com o Ministério
Público a pedir a absolvição dos arguidos. É no mínimo intrigante ter-se
perdido tanto tempo, para finalmente dar tudo em águas de bacalhau. No entanto,
a montanha pariu um ratinho. A mando do juiz do processo foi extraída certidão
das declarações de algumas testemunhas para que o Ministério Público abra um
processo de averiguações ao antigo Ministro do Ambiente, José Sócrates.
Estranha-se que face a tantas insinuações no passado, o Ministério Público nunca
tenha tido a oportunidade de chamar o ex-governante a depor. A funcionar desta
maneira, cada vez mais o cidadão comum acredita que há uma justiça para os
poderosos e outra para os fracos. E quando assim é, algo está podre no reino da
Dinamarca.
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