quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Bagatelas da quinzena    
                1 Com o colorido das feiras, festas e folias a animar o povo, com os políticos e comentadores de bancada entretidos a banhos no Algarve, as maleitas da crise até parecem aliviadas. E bem necessário é. Nos últimos tempos, a verborreia de alguns tem sido inflamada demais e o responsório demasiado frequente. A insensatez de muitos tem encrespado o panorama político. Em vez de colocarem água na fervura, gente principal, das mais diversas áreas e estatutos, tem perdido as estribeiras atirando achas para a fogueira, de tal forma que algumas delas revelam mais ódio de estimação pessoal, de infantil melindre, do que saudável crítica construtiva. Como se não bastasse a algazarra dos sindicatos, que fazem o seu papel, e o ruído repetido, até à náusea, em alguma comunicação social, estes senhores bem podiam ver claramente que o povoléu já não tem pachorra para assistir a tanto foguetório de palavras.
                2 Como de costume, aí temos o drama dos incêndios a enlutar o Portugal mais profundo. Parece ser este o fado de todos os verões. O calor, a seca extrema, a negligência generalizada, no que à limpeza das matas diz respeito, o descuido, o desrespeito pelo património colectivo e as motivações fúteis de alguns desequilibrados mentais formam um caldo explosivo difícil de dominar. Milhares e milhares de hectares de floresta são delapidados impunemente todos os anos, ficando o país cada vez mais pobre. Para se ter uma noção da tragédia, refira-se que a área ardida triplicou nos últimos dez anos. Em vez de se prevenir como seria mais razoável, passa-se o verão a remediar o mal feito. Mas que sina!
                3 ”Que se lixem as eleições”, disse Passos Coelho aos deputados do PSD. A utilização do  plebeísmo foi o bastante para agitar as águas da política. As oposições fartaram-se de “malhar” no homem, porque aquilo não é linguagem adequada para um governante. Até alguns correligionários seus sentiram-se escandalizados, mas outros aplaudiram de pé a bonomia do Primeiro-ministro. Intencional ou não, a expressão usada foi eficaz na sua simplicidade. Aliás, de há muito que Passos Coelho vem usando expressões popularuchas, mas de forte efeito mediático. Bem pode o PM estar-se marimbando para as eleições, mas quem vive mesmo lixado até ao tutano são todos aqueles que diariamente carregam no lombo as medidas de austeridade do Governo e da Troika.
                4 Vários anos decorridos, muito dinheiro gasto e muita tinta desperdiçada, o processo Freeport chega ao fim, com o Ministério Público a pedir a absolvição dos arguidos. É no mínimo intrigante ter-se perdido tanto tempo, para finalmente dar tudo em águas de bacalhau. No entanto, a montanha pariu um ratinho. A mando do juiz do processo foi extraída certidão das declarações de algumas testemunhas para que o Ministério Público abra um processo de averiguações ao antigo Ministro do Ambiente, José Sócrates. Estranha-se que face a tantas insinuações no passado, o Ministério Público nunca tenha tido a oportunidade de chamar o ex-governante a depor. A funcionar desta maneira, cada vez mais o cidadão comum acredita que há uma justiça para os poderosos e outra para os fracos. E quando assim é, algo está podre no reino da Dinamarca.

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