Bagatelas da quinzena
Umas excelências
maçadoras da nossa praça, quais caga-lumes em noite quente de
verão, estão sempre disponíveis para a fosforescência verbal, para a verborreia
narrativa quando algum jornal ou microfone lhes dá oportunidade de antena. Como
se não bastassem já tantos treinadores de bancada a dar palpites de
imbecilidade, ainda vêm estes senhores engrossar o dichote político em que
andamos afogados. Recentemente, foi a vez do presidente do BPI, à pergunta se
“o país aguenta mais austeridade?”, responder com um “ai aguenta, aguenta!” Se
cada português fosse accionista de um banco, certamente aguentaria tudo e mais
alguma coisa, a ver pelos lucros fabulosos que os bancos vêm tendo, apesar da
conjuntura difícil que se vive. Portanto, é caso para perguntar ao Dr. Ulrich:
crise, qual crise? É bem sabido que pimenta no rabo dos outros é refresco para
o BPI…
A afirmação de D. José Policarpo de
que em democracia os problemas não se resolvem com manifestações ou a de Isabel
Jonet, presidente do Banco Alimentar, de que os portugueses não podem comer
bifes todos os dias, ambas revelam sensatez. Os tempos são difíceis, não só
para nós, mas para todos os europeus que criaram um padrão de vida acima dos
recursos disponíveis. Quem não quiser ver esta realidade, está a ser avestruz
com a cabeça metida na areia. Por isso, quando alguém não embarca na narrativa
politicamente correcta, quando o discurso é sensato e se rema contra a maré do
momento, caiem-lhe logo em cima um coro de críticas histéricas e sem sentido.
Depois, as redes sociais fazem eco deformado de tudo e exponenciam até ao enjoo
a palermice colectiva. O que se valoriza é a espuma, o superficial, o
contingente, em detrimento daquilo que o país precisa, que é bom senso, para
sair dos dias negros em que está mergulhado.
Para sair da austeridade bem precisávamos de
partidos à medida do momento. Mas o que se verifica é que o quintal de cada um
é mais importante do que o país. Temos a lição do que foi a primeira república
e das lutas partidárias de então que deram no que deram. Os tempos são outros,
evidentemente, mas seria bom aprendermos com a História. Até com os partidos
políticos um país precisa de ter sorte! Pela aragem, parece que não tivemos. O
PCP vive agarrado à vaca sagrada da constituição, à espera de que o Alentejo
ainda lhe volte às mãos; o BE vocifera contra a troika, pedindo insistentemente
que se rasguem os acordos com os credores; o PS assobia para o lado como se
nada fosse com eles e José Seguro não se compromete com nada à espera que o
poder lhe caia no colo. PSD, CDS e Governo, acossados na rua por todos os
lados, navegam à vista dos acontecimentos. Com estes sindicatos partidários
cuidando zelosamente das suas quintinhas, com a CGTP transformada em carneirada
de rua, o país não tem estadistas nem dirigentes com visão de futuro. Por isso,
avante camarada, avante, até ao abismo.
Angela Merkel visitou
Portugal e uma minoria instrumentalizada vê na senhora a fonte de todos os
nossos males. Sublima-se em bode expiatório todas as fraquezas. Mas nesta
Europa a várias velocidades, com alguns países até em roda livre, a chanceler
alemã talvez seja o travão necessário para manter viável no carril o comboio
económico do Velho Continente.
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