sexta-feira, 16 de novembro de 2012



Bagatelas da quinzena  
  
 Umas excelências maçadoras da nossa praça, quais caga-lumes em noite quente de verão, estão sempre disponíveis para a fosforescência verbal, para a verborreia narrativa quando algum jornal ou microfone lhes dá oportunidade de antena. Como se não bastassem já tantos treinadores de bancada a dar palpites de imbecilidade, ainda vêm estes senhores engrossar o dichote político em que andamos afogados. Recentemente, foi a vez do presidente do BPI, à pergunta se “o país aguenta mais austeridade?”, responder com um “ai aguenta, aguenta!” Se cada português fosse accionista de um banco, certamente aguentaria tudo e mais alguma coisa, a ver pelos lucros fabulosos que os bancos vêm tendo, apesar da conjuntura difícil que se vive. Portanto, é caso para perguntar ao Dr. Ulrich: crise, qual crise? É bem sabido que pimenta no rabo dos outros é refresco para o BPI…
                A afirmação de D. José Policarpo de que em democracia os problemas não se resolvem com manifestações ou a de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, de que os portugueses não podem comer bifes todos os dias, ambas revelam sensatez. Os tempos são difíceis, não só para nós, mas para todos os europeus que criaram um padrão de vida acima dos recursos disponíveis. Quem não quiser ver esta realidade, está a ser avestruz com a cabeça metida na areia. Por isso, quando alguém não embarca na narrativa politicamente correcta, quando o discurso é sensato e se rema contra a maré do momento, caiem-lhe logo em cima um coro de críticas histéricas e sem sentido. Depois, as redes sociais fazem eco deformado de tudo e exponenciam até ao enjoo a palermice colectiva. O que se valoriza é a espuma, o superficial, o contingente, em detrimento daquilo que o país precisa, que é bom senso, para sair dos dias negros em que está mergulhado.
                Para sair da austeridade bem precisávamos de partidos à medida do momento. Mas o que se verifica é que o quintal de cada um é mais importante do que o país. Temos a lição do que foi a primeira república e das lutas partidárias de então que deram no que deram. Os tempos são outros, evidentemente, mas seria bom aprendermos com a História. Até com os partidos políticos um país precisa de ter sorte! Pela aragem, parece que não tivemos. O PCP vive agarrado à vaca sagrada da constituição, à espera de que o Alentejo ainda lhe volte às mãos; o BE vocifera contra a troika, pedindo insistentemente que se rasguem os acordos com os credores; o PS assobia para o lado como se nada fosse com eles e José Seguro não se compromete com nada à espera que o poder lhe caia no colo. PSD, CDS e Governo, acossados na rua por todos os lados, navegam à vista dos acontecimentos. Com estes sindicatos partidários cuidando zelosamente das suas quintinhas, com a CGTP transformada em carneirada de rua, o país não tem estadistas nem dirigentes com visão de futuro. Por isso, avante camarada, avante, até ao abismo.
                Angela Merkel visitou Portugal e uma minoria instrumentalizada vê na senhora a fonte de todos os nossos males. Sublima-se em bode expiatório todas as fraquezas. Mas nesta Europa a várias velocidades, com alguns países até em roda livre, a chanceler alemã talvez seja o travão necessário para manter viável no carril o comboio económico do Velho Continente. 

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