FLASHBACK
Bagatelas da quinzena
O país anda tão nervoso que qualquer coisinha serve para a reacção mais
intempestiva, para o disparate colectivo mais folclórico! Armado em La Fontaine, Miguel Macedo recriou a
fábula da Cigarra e da Formiga, e, apesar de estar em casa de bombeiros,
incendiou os pequeninos rastilhos da intriga nacional. E o estrondo foi tal,
que o ministro teve vir explicar o sentido da metáfora. Mas senhor ministro, com
tanto desemprego no país, mesmo aqueles que no passado sempre foram
formiguinhas de trabalho, mais não lhes resta hoje do que serem cigarras roufenhas,
entristecidas à espera de melhores dias de verão. Também a “boutade” de António
Borges sobre a TSU, ao apelidar os empresários de “ignorantes”, veio aumentar o
ruído político. A resposta dos empresários não se fez esperar, referindo que o
senhor “nunca trabalhou na vida”, isto é, nunca foi formiga, portanto não sabe
o que é ter dores de cabeça quando se tem empregados a cargo. Com amigos destes,
que tantos tiros dão nos pés, não precisa Passos Coelho de grande oposição!
Os cortes nas fundações foram
apresentados como solução para poupar uns valentes 200 milhões de euros. Mas das
dezenas de fundações que iriam ser extintas, o Governo ficou-se por quatro.
Muitas não dependem do Governo, são das universidades e dos municípios. E os
milhões por cortar ficam para S. Nunca à Tarde. Nunca uma montanha pariu um
rato tão pequeno e percebe-se porquê. Quando o Estado todo-poderoso para com os
fracos contribuintes tenta tocar nos fortes interesses instalados, sejam eles
nas fundações, nos institutos ou na reforma administrativa, mete o rabo no meio
das pernas e foge deles como o diabo da cruz.
Extremismo e demagogia não
levam o país a lado nenhum. E o governo tem de perceber que medidas demasiado
dolorosas para os cidadãos são o caldo propício para determinados extremismos
políticas e sociais florescerem. Não têm soluções, não apresentam alternativas
viáveis. Mas fazem do batuque, do foguetório, do circo, da algazarra política a
sua razão de existir. E se para alguns, o paradigma de sociedade que apresentam
está falido há muito tempo, foi sepultado com as carcaças políticas da antiga
URSS, para outros, as utopias que alimentam só serão passíveis de ser
realizadas em algum reino de iluminados nefelibatas.
A redução de deputados anda na berra das redes sociais e vai ter
lugar no calendário político do PS. Embora algumas lapas do partido estejam
contra, com medo de perder o rochedo hospedeiro, o líder dos socialistas
referiu que vai apresentar uma proposta de redução do número de deputados até
final do ano. E honra lhe seja feita, se conseguir levar avante a sua cruzada. O
folguedo de tantos deputados, amarrados na Assembleia da República, alguns
deles saltaram dos cueiros directamente para lá, custa à democracia 100 milhões
de euros cada ano. E neste assunto, PCP e BE estão furiosamente contra. Quando
se mordisca interesses, até os régulos mais ciosos da senzala ficam assanhados.
Pudera!
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