quinta-feira, 2 de junho de 2011

Flashback

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena

            O caso do senhor Dominique Strauss Kahn tinha todos os ingredientes para ser capa dos periódicos ou abertura dos telejornais, como de facto foi, porque reunia em dose explosiva sexo e poder. Ainda muita tinta correrá, até se apurar cabalmente se o homem foi leviano no comportamento, ao cair nos três inimigos da alma, principalmente o último, ou vítima de armadilha bem montada. Há pistas que apontam para um linchamento bem orquestrado, uma espécie de castigo pelas posições que Strauss Kahn tinha vindo a tomar à frente do FMI, que ameaçavam a elite financeira mundial e o comportamento hegemónico dos Estados Unidos no seio da organização. Os banqueiros mundiais, altamente responsáveis pela crise que atravessa os continentes, não viam com bons olhos as mudanças que o senhor Strauss Kahn estava a introduzir no FMI, no sentido de o transformar numa organização de fim mais filantrópico, de ajuda sincera aos países em dificuldade, e não uma agência de agiotagem que explora até ao tutano os povos que se encontram em dificuldades económicas e financeiras.
            Deixando de lado essa questão, é de referir, no entanto, que a justiça americana foi cega, agiu com celeridade e não olhou ao estatuto social do arguido. Se o incidente tivesse ocorrido por estas paragens, certamente que a justiça deixaria muito a desejar. Sabemos como os tribunais portugueses piscam o olho aos poderosos, que escapam das malhas da justiça como enguias luzidias em noite luarenta de pescaria. Embora salvaguardando as distâncias, veja-se o que aconteceu com uma magistrada do Ministério Público que foi detectada, em Cascais, a conduzir em contramão e com uma taxa de 3,08 de alcoolemia. A detenção foi feita pela Polícia Municipal, mas o processo foi logo anulado e a senhora libertada, porque o tribunal entendeu que a detenção fora ilegal. Sabemos o que acontece ao comum dos mortais quando é apanhado nas mesmas condições. É submetido a julgamento sumário e leva com as devidas penalizações legais. Pequeno exemplo revelador de como a nossa lei processual está a léguas de distância das americanas, quando usa dois pesos e duas medidas.
            Sabendo-se da crise que o país atravessa, com falta de dinheiro para tudo, atraso nos compromissos do Estado para com os fornecedores e até da falta das coisas mais comezinha nas repartições públicas, como se compreende que a PSP tenha gasto 62 mil euros em relógios de luxo para o director nacional dispor, a seu belo prazer em oferendas, em actos oficiais, a entidades que visitam aquela força de segurança.
            Enfim, ainda não aprendemos que o dinheiro dos impostos, que é dos cidadãos, deve ser bem gerido e gasto com parcimónia. Até parece que a ordem é rica e os frades são poucos! Por isso, toca a gastar à tripa forra. Não temos emenda.
in Jornal de Vieira

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