quinta-feira, 2 de junho de 2011

Flashback

FLASHBACK
Bagatelas da quinzena
           
            Antigamente, a quadra quaresmal não era propícia ao aparecimento de ninharias e bagatelas noticiosas. Era tempo de se viver em profundidade, em silêncio e sem desvios pequenos a grandiosidade do mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Até as próprias rádios se associavam ao luto quaresmal e só transmitiam música clássica, de modo a criar uma atmosfera de meditação e recolhimento. Outros épocas outros modos. No entanto, como sinal dos tempos, aqui e agora, o país vive na espuma dos dias, no efémero do momento, num frenesim noticioso sem paralelo. São tantos os jornais e os canais televisivos que há necessidade de tudo transpor para a opinião pública. Veja-se o que se passa com os homens do FMI e afins que não têm o mínimo de sossego, tendo muitas vezes de sair pela porta do cavalo para não enfrentarem os microfones das rádios e as objectivas da televisão.
            Neste contexto, sangue, lágrimas e assaltos são o pão-nosso informativo. Por vezes, até um pouco anedóticos, como foi o caso do roubo que aconteceu no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra, donde foram desviados dois chifres de rinoceronte do século XVIII e cujo valor no mercado negro internacional pode atingir 80 mil euros. Nada escapa aos larápios. E em tempo de crise, os ditos chavelhos, velhos de mais de duzentos anos, também não escaparam à roubalheira generalizada que varre o país de lés-a-lés.
            Quem também foi notícia, porque apanhado em ramo verde, foi o deputado do PS, de seu nome José Lello. Através do Facebook, o representante do povo apelidou de “foleiro” o Presidente Cavaco Silva.” Numa justificação esfarrapada veio depois a terreiro dizer que foi uma atitude involuntária. Referiu, ter dito em “português redondo” aquilo que poderia ter sido dito em “politiquês”. No entanto, o senhor deputado não é virgem neste seu jeito truculento de falar dos outros políticos. Em tempos, já tinha apelidado o Presidente de “ressabiado. Mas este episódio só vem revelar os mimos que os representantes do povo, entre eles, na calada do BlackBerry, trocam entre si.
            Dei-me ao trabalho de consultar a Dicionário Etimológico e “foleiro” vem do latim folle- “fole, odre”. Bem vistas as coisas e indo ao sentido etimológico do termo não sei bem qual dos dois será mais fole, se o acusador, se o acusado. Até porque a nível popular, foleiro também significa burro de moleiro que transporta os foles ao moinho. Sabendo-se que José Lello faz parte do grupo duro de Sócrates e funciona um pouco como cavalo de tróia do chefe, quando é preciso dar a cara em tudo o que seja truculência partidária, fico baralhado em quem assenta melhor a albarda de foleiro.
in Jornal de Vieira

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